Globalização e exclusão
A globalização, caracterizada pela velocidade das informações no mundo de hoje, contrasta com uma educação rudimentar nas escolas públicas, resultado a meu ver, de uma perceptível omissão das famílias na educação dos filhos. É preciso ser muito dinâmico para que as aulas possam fluir bem, e instigá-los constantemente na busca do saber, na leitura de bons livros.
A História feita nos dias de hoje, lançada nos labirintos das bibliotecas de amanhã, exige um olhar atento à globalização. Este fenômeno iniciado há mais de duas décadas por meio da avançada tecnologia que os computadores vieram a nos proporcionar, precisa ser vista e repensada nos espaços de nossas escolas e na memória de nossos tablets. A população sempre fragmentada em escalas sociais estampa através desses alunos ávidos de conhecimento suas deficiências.
Uma escola é o solo fértil da construção da cidadania, é ali que são edificadas as identidades de cada ser humano. Assisti a algumas aulas neste meu primeiro estágio de História e pude ver que o professor fazia “analogias” entre outras eras (período pré-histórico, por exemplo) e os acontecimentos passados na televisão (aberta), de tal forma que os alunos não perdessem o foco no estudo e na atenção em sala de aula.
Ao verificar as carências da Escola E.B.X.X.X., no Bairro Capoeiras, sua estrutura danificada e pichada, seus tetos arrebentados, o precário estado das mesas e cadeiras, o quadro de giz ultrapassado, as inúmeras grades que a cercam incluindo a grade da televisão disponibilizada para passar vídeos educativos, o completo abandono do espaço de ginástica (cheio de mato), o ginásio de esportes fechado e entregue às teias de aranhas, percebo que tudo isso se contrapõe à dedicação dos professores impotentes diante do espetáculo de abandono, se contrapõe à doçura da diretora que atende a todos com uma paciência impressionante, se contrapõe aos inocentes alunos que ali transitam no período da tarde, alegres e alheios ao mundo consumista que consome inclusive os neurônios dos cidadãos.
O Estado é negligente! Não obstante, o corpo docente tenha sido agraciado com tablets de última geração, este aparato tecnológico de muito pouco servirá numa escola onde só uma sala dispõe de audiovisual para utilização do mesmo. Os professores ganharam esse presente merecidamente. Mas, as aulas continuarão a ser ministradas da maneira antiga, fora de uso e insalubre, com seus quadros de giz. Não que o corpo docente não queira os avanços, simplesmente estão de mãos atadas. Eles mesmos já pintaram as paredes internas do prédio da escola, já estão roçando o mato que envolve a construção, eles mesmos estão tomando a iniciativa que deveria partir dos órgãos competentes, ou seja, da estrutura que nos governa.
Os meios de comunicação nos deram conta que alunas brigaram, se pegaram aos tapas no banheiro de uma escola pública, filmaram e lançaram o vídeo na internet. Segundo opinião dos alunos (desta escola do estágio) foi um vídeo promocional, provocativo. O professor lhes alertou que isso não se faz, não é fruto de boa educação, pelo contrário, e ele também lhes alertou sobre bullying e cyberbullying. São atitudes inconsequentes de uma geração deseducada, com a ausência dos pais e da família, jogando nas mãos dos professores a difícil tarefa de lhes ensinar bons modos.
A exclusão das classes humildes é notória. Os alunos, vítimas de um sistema que não lhes dá escolha, estão atrasados intelectualmente. As imagens que os olhos dos pequeninos vêem todos os dias são gritantes de violência, de apelos sexuais e de consumo. As imagens influenciam bem mais do que as palavras, e penso que estão meio aturdidos de tanta gritaria nas propagandas, de tanto buscar e não ter. Nesta escola o número de salas desativadas causou-me espanto pela falta de alunos, num tempo onde tantos precisam de estudo. Uma escola que em outros tempos possuía mais de 3 mil alunos, agora tem mais ou menos seiscentos, só. É de se perguntar: a quantas andam o esforço governamental em dirimir gastos e auxiliar as classes carentes?!... Esses detalhes incomodam alguns professores, e a consciência de que são as classes mais abastadas que dispõem de internet grátis, boas escolas, boa merenda, professores bem mais qualificados, estrutura física confortável e imensas possibilidades de sucesso nas suas vidas futuras do que estes das escolas públicas.
É por conta deste quadro atual que penso que a globalização evidenciou os extremos: os ricos têm mais chances e os pobres cada vez menos. Reverter esse quadro requer um esforço monumental, e se os alunos dessa escola tem tido um bom aproveitamento se deve ao exaustivo esforço dessa equipe de pessoas batalhadoras. Já não é mais tempo de esperar as coisas acontecerem, tudo urge num mundo aonde os robôs já chegaram aos planetas distantes. O ser humano precisa olhar pros seus semelhantes com mais carinho, precisa exercer a tolerância sabiamente e terá que ter muito mais respeito aos seres pequeninos que amanhã governarão este nosso país.
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IZABELLA PAVESI
A globalização, caracterizada pela velocidade das informações no mundo de hoje, contrasta com uma educação rudimentar nas escolas públicas, resultado a meu ver, de uma perceptível omissão das famílias na educação dos filhos. É preciso ser muito dinâmico para que as aulas possam fluir bem, e instigá-los constantemente na busca do saber, na leitura de bons livros.
A História feita nos dias de hoje, lançada nos labirintos das bibliotecas de amanhã, exige um olhar atento à globalização. Este fenômeno iniciado há mais de duas décadas por meio da avançada tecnologia que os computadores vieram a nos proporcionar, precisa ser vista e repensada nos espaços de nossas escolas e na memória de nossos tablets. A população sempre fragmentada em escalas sociais estampa através desses alunos ávidos de conhecimento suas deficiências.
Uma escola é o solo fértil da construção da cidadania, é ali que são edificadas as identidades de cada ser humano. Assisti a algumas aulas neste meu primeiro estágio de História e pude ver que o professor fazia “analogias” entre outras eras (período pré-histórico, por exemplo) e os acontecimentos passados na televisão (aberta), de tal forma que os alunos não perdessem o foco no estudo e na atenção em sala de aula.
Ao verificar as carências da Escola E.B.X.X.X., no Bairro Capoeiras, sua estrutura danificada e pichada, seus tetos arrebentados, o precário estado das mesas e cadeiras, o quadro de giz ultrapassado, as inúmeras grades que a cercam incluindo a grade da televisão disponibilizada para passar vídeos educativos, o completo abandono do espaço de ginástica (cheio de mato), o ginásio de esportes fechado e entregue às teias de aranhas, percebo que tudo isso se contrapõe à dedicação dos professores impotentes diante do espetáculo de abandono, se contrapõe à doçura da diretora que atende a todos com uma paciência impressionante, se contrapõe aos inocentes alunos que ali transitam no período da tarde, alegres e alheios ao mundo consumista que consome inclusive os neurônios dos cidadãos.
O Estado é negligente! Não obstante, o corpo docente tenha sido agraciado com tablets de última geração, este aparato tecnológico de muito pouco servirá numa escola onde só uma sala dispõe de audiovisual para utilização do mesmo. Os professores ganharam esse presente merecidamente. Mas, as aulas continuarão a ser ministradas da maneira antiga, fora de uso e insalubre, com seus quadros de giz. Não que o corpo docente não queira os avanços, simplesmente estão de mãos atadas. Eles mesmos já pintaram as paredes internas do prédio da escola, já estão roçando o mato que envolve a construção, eles mesmos estão tomando a iniciativa que deveria partir dos órgãos competentes, ou seja, da estrutura que nos governa.
Os meios de comunicação nos deram conta que alunas brigaram, se pegaram aos tapas no banheiro de uma escola pública, filmaram e lançaram o vídeo na internet. Segundo opinião dos alunos (desta escola do estágio) foi um vídeo promocional, provocativo. O professor lhes alertou que isso não se faz, não é fruto de boa educação, pelo contrário, e ele também lhes alertou sobre bullying e cyberbullying. São atitudes inconsequentes de uma geração deseducada, com a ausência dos pais e da família, jogando nas mãos dos professores a difícil tarefa de lhes ensinar bons modos.
A exclusão das classes humildes é notória. Os alunos, vítimas de um sistema que não lhes dá escolha, estão atrasados intelectualmente. As imagens que os olhos dos pequeninos vêem todos os dias são gritantes de violência, de apelos sexuais e de consumo. As imagens influenciam bem mais do que as palavras, e penso que estão meio aturdidos de tanta gritaria nas propagandas, de tanto buscar e não ter. Nesta escola o número de salas desativadas causou-me espanto pela falta de alunos, num tempo onde tantos precisam de estudo. Uma escola que em outros tempos possuía mais de 3 mil alunos, agora tem mais ou menos seiscentos, só. É de se perguntar: a quantas andam o esforço governamental em dirimir gastos e auxiliar as classes carentes?!... Esses detalhes incomodam alguns professores, e a consciência de que são as classes mais abastadas que dispõem de internet grátis, boas escolas, boa merenda, professores bem mais qualificados, estrutura física confortável e imensas possibilidades de sucesso nas suas vidas futuras do que estes das escolas públicas.
É por conta deste quadro atual que penso que a globalização evidenciou os extremos: os ricos têm mais chances e os pobres cada vez menos. Reverter esse quadro requer um esforço monumental, e se os alunos dessa escola tem tido um bom aproveitamento se deve ao exaustivo esforço dessa equipe de pessoas batalhadoras. Já não é mais tempo de esperar as coisas acontecerem, tudo urge num mundo aonde os robôs já chegaram aos planetas distantes. O ser humano precisa olhar pros seus semelhantes com mais carinho, precisa exercer a tolerância sabiamente e terá que ter muito mais respeito aos seres pequeninos que amanhã governarão este nosso país.
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IZABELLA PAVESI