A GAROTA NA FOTO DO PERFIL
NA MANHÃ DE 01 DE JULHO DE 2013
Fico a contemplar o rosto da garota na foto do perfil. Fico a contemplá-la com alguma perplexidade, para não dizer com intensa melancolia.
Um belo rosto de criança, o dessa menina de sete anos. Belo rosto cujo olhar, cuja boca, cuja expressão facial revelam, a meu ver, algo não muito comum em sua idade: um olhar que já parece interrogar o mundo, que parece já estar a sentir algo da ausência ou da impossibilidade de respostas para as perguntas que viriam ao longo da vida e das múltiplas mortes. Uma boca cerrada, sem qualquer preâmbulo de sorriso. Uma expressão de funda seriedade que não deveria caber em rosto tão jovem. Posso dizer tais coisas com alguma autoridade porque eu fui essa criança. Tenho dela, em especial, uma recordação que nunca ouvi de ninguém a dizer sobre seus próprios sete anos: essa menina ficava, às vezes, a olhar as brincadeiras de seus coleguinhas com aguda sensação de perda,com se ela fosse um velho recordando o passado.
Uma criança ensimesmada, solitária, que os adultos e os coleguinhas não podiam compreender. Uma criança silenciosa, acostumada a esconder suas sensações, pensamentos, medos. Uma criança que desde sempre aprendeu a ouvir coisas graves de adultos muito mais infantis e imaturos do que ela. Uma criança que se escondia no quarto para ler, para se fazer invisível. Uma criança que já sonhava demais, sonhos que não sabia nem conseguiria (ainda que o desejasse), partilhar com alguém. Mais tarde ela aprenderia a usar a linguagem oral e escrita como escudo, escudo que, afinal, acabou por não protegê-la de nada, muito pelo contrário.
Olho para o rosto dessa criança e lhe peço um também silencioso perdão, porque eu a traí, traí tudo o que ela poderia ter realizado e não conseguiu. Não sei se ela me perdoa, mas, sinto que ela me compreende como se, do fundo do tempo, já tivesse alguma percepção do que viria a ser nosso futuro. Olho a expressão do seu rosto e lhe pergunto: Então nada poderia, mesmo, ter sido diferente, não poderia, mesmo, ter sido outro nosso destino? Sinto que ela recolhe minha pergunta na pequena alma e ma devolve com olhar ainda mais melancólico. Recolho seu olhar e penso: Como eu gostaria de te fazer um pouco feliz! Ah, se eu pudesse te tornar um pouco menos só!
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