A SERENATA
Dedilhava o violão sem muita perícia e sua voz se elevava enchendo a noite calma de sons que se não tinham a perfeição dos consagrados cantores, tinha todo o encantamento de uma alma jovem que descobrira o amor.
No céu a lua minguante parecia rir para ele com sua luminosa boca desdentada, enquanto o vento leve acariciava- lhe os cabelos lembrando as mãos da mulher amada cujas caricia ele só podia imaginar.
Lá no alto, além da janela fechada, ela desperta. Chega-lhe aos ouvidos e aquece- lhe o coração, as juras de amor traduzidas em versos embalados na melodia.
Quis levantar-se, abrir a janela, jogar uma flor como resposta afirmativa, confirmação de seu amor, mas não se atreveu.
A mãe já lhe advertira sobre o recato conveniente a uma donzela e tudo que ela não queria era que ele ousasse pensar que ela não era uma mocinha bem comportada.
Mas seria tão bom levar-se pelo impulso de, não apenas jogar uma flor, mas jogar-se toda em seus braços...
Antes porem que seus devaneios tomassem mais corpo quem abriu a janela foi o seu pai que com um simples olhar emudeceu o menestrel que lá se foi embora levando seu violão e ocultando no coração seu pecado de amar.