No Canadá a catraca não é livre

 
Em Paris, no restaurante onde almoçávamos, um senhor da mesa ao lado perguntou se éramos brasileiros, estava a nos ouvir embevecido. Contou que moço ainda deixou Portugal dos tempos de Salazar e passou alguns anos trabalhando na França. Depois foi para o Canadá e lá se estabeleceu em Vancouver, onde trabalhou, casou e teve um filho. Aliás, sua mulher e o filho que não entendem quase nada de português o acompanhavam e ficaram pacientemente a sorrir para nós, enquanto meu marido e ele engataram uma longa prosa. Tirando o celular do bolso, ele nos mostrou fotos da casa onde vivem, um sobrado com dois bons apartamentos. Eles moram no andar superior e alugam o do térreo. Assim, além da renda extra, seus inquilinos fazem a guarda do local durante o tempo em que se ausentam, porque agora que estão aposentados costumam passar o verão em sua casa de praia no México. Sim senhor, o rapazinho que deixou sua terra sem nada no bolso labutou e hoje pode viver com certa tranquilidade. Agora mesmo estava em Paris e logo mais seguiria para Portugal, a fim de rever parentes e amigos.

Dentre as muitas coisas que ele nos relatou sobre a vida no Canadá, uma delas chamou-nos a atenção. Por lá os serviços públicos funcionam muito bem, saúde, educação, transportes... como imaginávamos. Mas nada é totalmente de graça! Mesmo que não seja muito, paga-se alguma coisa. E ele nos deu o exemplo dos transportes: para ônibus e metrô aposentados e idosos pagam uma tarifa reduzida e podem durante uma ou duas horas do dia usar o mesmo bilhete.

O mais interessante é que este casual encontro aconteceu em maio deste ano de 2013, exatamente um mês antes de pipocarem por aqui as manifestações por causa dos tais vinte centavos...

No Canadá, civilizado, não há catraca livre!





(Aposentada e idosa, confesso que me sinto constrangida todas as vezes que apresento uma carteirinha no ônibus ou para passar livremente pela catraca do metrô, porque sei que alguém está pagando a passagem por mim).