RECEITA
Eu me divido em dois, pego a melhor parte e adiciono com o que eu penso que há de melhor nos outros, provo dessa mistura e chego ao êxtase. Pegue essa mistura se puder, prove dela se tiver coragem; quero deliciar-me com seu rosto. Quero beber do néctar de seu prazer. Importa-me, sobretudo o seu gosto, seu paladar. Vamos tentar a fórmula certa, faremos de nossas vidas um livro de receitas. A culinária humana. Toda arte tem de ser corpórea. Tome nota!
Despedaço-me todo, derramo-me em sua fôrma, eu te modulo, te englobo, te procuro, te acho, te ajunto, me encaixo... O que temos agora? _ Ah, sim! Um delicioso manjar. Cálice dos deuses, comida para o faminto, água para o sedento e, Amor para os que têm coragem.
Por outro lado, ás vezes, pego o que há de pior em mim e o que há de horrível em ti, misturo mal e não provo. O tempero da comida é a fome, e a vingança é um prato que se serve frio e apimentado.
Pois se o que não mata engorda, pego o que há de melhor em mim, o que há de melhor em ti, faço a poção para o delírio da Humanidade! Deixo que provem e que sintam a energia dessa mistura... Ah! Já ia me esquecendo, adicione sal ou açúcar. Tanto faz. O gosto é uma questão de língua.