O CAMINHO DA ESCOLA
Caminhando logo cedinho, vi o sol rasgar as nuvens. Elas, até que tentaram dizer a ele, que é outono, e portanto ele deveria surgir mais tarde e menos quente. Mas que nada, ele mostrou-se ardente logo ao romper do dia, e inundou todo meu trajeto com seus raios.
Enquanto caminhava me lembrei de meus idos anos, quando menina, pegava a bolsa de couro, herança de meu pai, e lá ia eu, para a escola. Cedinho, o dia preguiçoso, exercendo sua bipolaridade, não sabia se queria continuar escondido ou se rompia da escuridão da noite.
Lá, o outono era outono, não se confundia com o verão, os ventos matinais, e a neblina, eram minhas companhias no percurso.
O fogão à lenha na cozinha de nossa casa, ainda soltava fumaça quentinha, e minha boca como a emitá-lo, parecia um chaminé ambulante, respondendo ao frio que fazia.
Como era divertido seguir chutando as pedrinhas, parando para colher flores coloridas dos barrancos do caminho, juntá-las com cuidado para entregar a mestra com carinho.
Tanto havia para se ver até chegar ao destino, pássaros a cantar alto, contando da alegria pelo dia que vencendo a indolência novamento surgia.
As araucárias altivas, guardavam a regalia de estar mais próximas do céu que qualquer outra árvore. Eu as chamava de rainhas, pois a mim, sempre pareceu que tinham uma coroa no formato imponente com que cresciam seus galhos.
Ia feliz, cantando cantigas de roda, vez ou outra parava para desenhar uma amarelinha e pular, mesmo que só um pouquinho.
Não deixava por nada a bolsa de couro no chão de terra, meu pai sempre repetia, que ela ia durar para quando meu filho fosse à escola. O caminho todo ia sentido o cheiro gostoso do pão com ovo frito, ou com doce de goiaba feito em casa. Bem guardado dentro da bolsa de couro.
E já imaginava a delícia de saboreá-lo na hora do recreio.
Ninguém quase passava por aquela estrada, vez ou outra, um morador em sua bicicleta ou um caminhão carregado de lenha cortada, ainda exalava o cheiro amadeirado tão gostoso.
No mais só mesmo o ruído das pequenas cascatas, feitas pelos rios por dentro das imensas matas que rodeavam a estrada.
E lá ia eu, menina feliz, sonhadora, imaginando-me; borboleta, para voar até o cume da mais alta araucária, ou uma pedrinha de rio, para me deixar ficar no fundo daqueles riachos rasos e frescos, ou quem sabe um joão de barro, para construir com beleza minha morada.
Integrada à natureza que me cercava, me sentia parte dela, e como em um teatro a céu aberto, me transvestia de cada um de seus personagens.
Hoje, o outono, já não se faz mais assim, não há fumaça saindo de minha boca, mesmo indo caminhar cedinho com o romper do dia.
As araucárias quase desapareceram do meu caminho, os rios, riachos e cachoeiras, já não fluem mais cristalinos e frescos. As borboletas e pássaros, quase não encontram lugar onde pousar.
Os caminhos das escolas, ah, esses então, não são mais de chão de terra batido, e nem a pé são percorridos, mas sim, em carros ou ônibus vão as pobres crianças, sem a bolsa de couro que foi de seu pai. Carregam vistosas mochilas, mas sem guardar em seu interior, o lanche cheiroso do pão com ovo ou do doce de goiaba caseira.
Que pena! Não há mais outono, nem riachos, nem terra pra se desenhar uma amarelinha, tão pouco borboletas e joão de barro, no caminho das crianças de agora.
Que pena!
(Imagem: Lenapena- Vermont)
Caminhando logo cedinho, vi o sol rasgar as nuvens. Elas, até que tentaram dizer a ele, que é outono, e portanto ele deveria surgir mais tarde e menos quente. Mas que nada, ele mostrou-se ardente logo ao romper do dia, e inundou todo meu trajeto com seus raios.
Enquanto caminhava me lembrei de meus idos anos, quando menina, pegava a bolsa de couro, herança de meu pai, e lá ia eu, para a escola. Cedinho, o dia preguiçoso, exercendo sua bipolaridade, não sabia se queria continuar escondido ou se rompia da escuridão da noite.
Lá, o outono era outono, não se confundia com o verão, os ventos matinais, e a neblina, eram minhas companhias no percurso.
O fogão à lenha na cozinha de nossa casa, ainda soltava fumaça quentinha, e minha boca como a emitá-lo, parecia um chaminé ambulante, respondendo ao frio que fazia.
Como era divertido seguir chutando as pedrinhas, parando para colher flores coloridas dos barrancos do caminho, juntá-las com cuidado para entregar a mestra com carinho.
Tanto havia para se ver até chegar ao destino, pássaros a cantar alto, contando da alegria pelo dia que vencendo a indolência novamento surgia.
As araucárias altivas, guardavam a regalia de estar mais próximas do céu que qualquer outra árvore. Eu as chamava de rainhas, pois a mim, sempre pareceu que tinham uma coroa no formato imponente com que cresciam seus galhos.
Ia feliz, cantando cantigas de roda, vez ou outra parava para desenhar uma amarelinha e pular, mesmo que só um pouquinho.
Não deixava por nada a bolsa de couro no chão de terra, meu pai sempre repetia, que ela ia durar para quando meu filho fosse à escola. O caminho todo ia sentido o cheiro gostoso do pão com ovo frito, ou com doce de goiaba feito em casa. Bem guardado dentro da bolsa de couro.
E já imaginava a delícia de saboreá-lo na hora do recreio.
Ninguém quase passava por aquela estrada, vez ou outra, um morador em sua bicicleta ou um caminhão carregado de lenha cortada, ainda exalava o cheiro amadeirado tão gostoso.
No mais só mesmo o ruído das pequenas cascatas, feitas pelos rios por dentro das imensas matas que rodeavam a estrada.
E lá ia eu, menina feliz, sonhadora, imaginando-me; borboleta, para voar até o cume da mais alta araucária, ou uma pedrinha de rio, para me deixar ficar no fundo daqueles riachos rasos e frescos, ou quem sabe um joão de barro, para construir com beleza minha morada.
Integrada à natureza que me cercava, me sentia parte dela, e como em um teatro a céu aberto, me transvestia de cada um de seus personagens.
Hoje, o outono, já não se faz mais assim, não há fumaça saindo de minha boca, mesmo indo caminhar cedinho com o romper do dia.
As araucárias quase desapareceram do meu caminho, os rios, riachos e cachoeiras, já não fluem mais cristalinos e frescos. As borboletas e pássaros, quase não encontram lugar onde pousar.
Os caminhos das escolas, ah, esses então, não são mais de chão de terra batido, e nem a pé são percorridos, mas sim, em carros ou ônibus vão as pobres crianças, sem a bolsa de couro que foi de seu pai. Carregam vistosas mochilas, mas sem guardar em seu interior, o lanche cheiroso do pão com ovo ou do doce de goiaba caseira.
Que pena! Não há mais outono, nem riachos, nem terra pra se desenhar uma amarelinha, tão pouco borboletas e joão de barro, no caminho das crianças de agora.
Que pena!
(Imagem: Lenapena- Vermont)