LÁGRIMAS AMARGAS

Haverá muitos momentos em que chorarei de maneira sem dúvida cruel, explodindo de amargura, não tenho dúvidas, serão instantes em que eu não conseguirei segurar as lágrimas e elas cairão copiosamente sobre minhas faces como uma cachoeira intermitente. Não saberei como parar ou segurar esse clamor que, bem sei, virá lá do âmago, lá do mais fundo da alma. Porque é algo forte, extremamente forte. E chorarei sem me segurar, não tolhendo meus sentimentos destruídos, deixando que o extravasar do instante se complete até que eu eu esteja inteiramente vazio, oco, um reles saco murcho de onde tiraram tudo, e se como de lágrimas me tivesse esvaído, assim como o leito de um rio na estiagem.

Chorarei tanto quanto as crianças abandonadas perambulando pelas ruas, sem futuro, triste e famintas, aquelas para quem raramente alguém olha com piedade. Serei igual às inalcançáveis estrelas que não param de brilhar sua solidão enquanto a noite não termina. Talvez eu fique como o sol ardente queimando a terra mas, ao mesmo tempo, alimentando as plantas pela fotossíntese. Porque minhas lágrimas regarão meu rosto a fim de que eu delas renasça à guisa de uma nova criatura, tornando-me, quiçá, um renovado Fênix, só que fluindo da dor da perda, da melancolia da distância, do nunca mais ter comigo quem eu tanto quero, e isso é dor que dói muito mais do que qualquer um possa imaginar. Sim, o nunca mais receber aquele lindo olhar meigo de amor, o nunca mais usufruir seus abraços, o nunca mais ter você, oh dor!, machuca como o ferro mais quente assando a carne viva do meu corpo.

Sei, estou mesmo convicto disso, não haverá ninguém para enxugar minhas lágrimas, ninguém mesmo, estarão todos longe de mim, certamente diversos zombarão de meu estado triste e me xingarão rindo, então elas secarão sozinhas por entre os poros do meu corpo desprezado, virarão pequenas marcas relembrando tamanha felicidade outrora vivida. E que linda e abençoada felicidade foi vivida e gozada ao lado dela, com ela! Ah, o amontoado de planos que o coração ditou sem pensar dua vezes, milhares de sonhos povoaram nossos desejos já preparando estradas para viver incríveis jornadas, mas tudo parece ter virado cinza. E nesse meu choro convulso, descontrolado, de melancolia e angústia, amargando uma agonia incurável pela irreparável perda, pelos sorrisos que já não serão meus, nem os abraços, nem os beijos, nem a alegria, decerto atravessarei sofrimentos emocionais inenarráveis. E, evidentemente, acontecerão novas crises de tristeza em meus olhos incansáveis de chorar. Confesso que não sei como suportarei estar longe ela, sem ela, não acredito nem que conseguirei isso. Às vezes a solidão me rasga em pedaços, me estraçalha, fura meus olhos e eu volto a chorar. Quanta falta ela me faz!

E as lembranças que se seguirão às lágrimas? Serão inevitáveis, constantes, permanentes, cruéis, amargurantes. Aos montes se farão presentes em meio às tempestades mentais, impossível enumerá-las, encheriam um oceano. Nesse ínterim virão as saudades, uma verdadeira montanha delas, enxurradas de várias atormentando e trazendo prazer. Porque multidões delas moldarão minha mente na forma incontida da melancolia e mais lágrimas virão, porém outras, também tantas como as areias da praia, deliciarão meu corpo por senti-las. Lembranças junto com saudades comandarão meus gestos, meus atos e atitudes, e, claro, novamente através dos meus olhos elas se manifestarão. Pois já não controlo meu choro.

Por isso os momentos em que chorarei não se contarão na velocidade matemática, mas à força e velocidade geométricas. O tempo minguará, não dará vazão a esse dilúvio de emoções até que eu extirpe todas as dores, exorcize esse bocado de lembranças boas ou más e arranque pela raiz as saudades amargas ou ternas, brutais ou na linha da ternura. Depois, no extremo desse vazio que ficará, decerto, buscarei e viverei outras emoções, jamais temerei tal renovar de sentimentos. Pois a vida não é assim mesmo, esse conjunto, ano após ano, de devaneios, encontros e desencontros, amor e ódio, sorrisos e esquecimentos, alegrias e lágrimas? Nesse momento, para mim, não passa tão-somente de muito chorar, de incontáveis lembranças e torturante saudade. Até quando chorarei torturado por essa triste saudade, essa terrível falta que sinto dela?

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 29/06/2013
Reeditado em 05/07/2013
Código do texto: T4364574
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