AMANHÃ É SÁBADO

O sábado tem uma magia, um “não-sei-o-quê” de diferente e de especial. É como se a natureza conspirasse para o sábado. Acorda-se mais disposto do que nos outros dias, percebe-se mais o azul do céu, azul translúcido como um vitral de uma catedral, espelhado nas poças d’água, quando chove. Há mais canto de pássaros, bem-te-vis empoleirados no centenário pé de pitomba no quintal. Nas manhãs de sábado abrem-se as cortinas, clareia-se a casa toda, o corredor, o quintal. Ouve-se um silêncio tão profundo! O cheiro gostoso de café e pão com manteiga vem acordar-nos e uma sensação de contentamento estufa-se no peito, fazendo bater mais forte o coração, revitalizando uma promessa, uma esperança, um juramento. No jardim, rosas abrem-se às borboletas e abelhas e as formigas, incansáveis jardineiras, podam e fazem piqueniques. O perfume no ar fica mais intenso e a manhã nem bem começou.

Bem que Clarisse Lispector falou que o sábado é a rosa da semana e sábado de tarde a casa é feita de cortinas ao vento.

Ah, tardes de sábado!

Notou como as sombras nas calçadas são maiores? Estendem-se enormes, alongando-se nas ruas, convidando-nos para sentar sob as árvores generosas.

Nelson Rodrigues certa vez escreveu que o sábado é uma ilusão.

Amanhã, pois, é dia de ilusão.