Por um tempo bom
Minha mãe achou uma foto minha de 15 anos atrás. Eu tinha exatamente 10 anos; vestia a camisa da seleção brasileira de 98. Incrível como uma pequena foto pode fazer a gente viajar no tempo. Viajei e me lembrei de um tempo bom. Claro que na época (assim como hoje) eu não achava que fosse um tempo bom. Talvez seja esse o grande desperdício da vida: a gente deixa pra perceber que os tempos são bons apenas quando eles já não são.
Aquele eu, menino, de ontem parece me olhar com reprovação; como se me indagasse o que fiz da vida. O menino que fui era totalmente despretensioso, não dispensava uma boa aventura. Era um menino sonhador que adorava ficar olhando o céu e se imaginando astronauta. Pois é! O menino cresceu. Agora os sonhos foram trocados por preocupações; o céu só é olhado a caminho de alguma atividade e já não se imagina astronauta. O que será que aconteceu? Indaga-me o menino. Também não sei. Vai ver a vida é assim mesmo...
Só que o menino não me encara como que exigindo uma volta ao passado, ele sabe que isso não é possível; e muito menos quer que eu viva uma eterna nostalgia. O que quer o menino então? Que eu descubra e viva, hoje, os “tempos bons”. Que eu aproveite mais a viagem e me preocupe menos com a chegada. Que me divirta mais fazendo perguntas, do que ficar neurótico por respostas. O menino quer me lembrar que adultos são chatos, justamente porque deixaram no passado seus “eus” meninos. Trabalho, trabalho e mais trabalho, só pensam em trabalho os adultos. Quem sabe não seja por isso que vivam tão estressados? Poucos são os meninos (praticamente nenhum) que vivem estressados, e como poderiam, já que sempre arrumam tempo para as brincadeiras.
Valeu menino! Por me lembrar de um tempo bom. E me fazer perceber que “tempos bons” não são lá, mas aqui, basta, enquanto vivermos, transformar qualquer tempo em um tempo bom. O menino me lembrou ainda da, aterrorizante e libertadora, frase do Rubem Alves: “quem sabe que o tempo está fugindo descobre, subitamente, a beleza única do momento que nunca mais será...”. Coloquei a foto na parede para sempre ouvir o menino gritar: “Tempus fugit”. Quem sabe assim nunca deixe passar um tempo bom.