Insuportável

Insuportável

É impossível conviver com você. Sua voz tenta explicar até a coisa em si e, assim, você que conhece o intimo e a essência das coisas, deblatera com a subjetividade em função de um racional. Suas ideias, muitas vezes, cheias de divagações, mas tem todo um fundamento, pois percebo uma visão de lince e uma perspicácia que lhe diferencia. Você pensa e sabe pensar.

Pensar é fácil, todos conseguem, mas, ir além do pensamento e buscar o inefável é dilacerante. Talvez, você nem se dê conta do que propaga, afinal, discursos só serão analisados após; o medo de reconhecer faz ignorar. Verdade seja dita: você consegue abrir o livro da vida e interpretá-lo.

Procuro em suas várias ideias motivos para lhe achar em contradição, mas você é um paradoxo, um mutante; algo que não está estático, assim, nada pode lhe contradizer. Suas ideias, nem sempre, são de fácil assimilação e, tampouco, não é garantia de que você esteja com o livro correto. Mas posso afirmar: você nasceu para pensar e construir pensamentos, logo, aqueles que pensam, apenas seguem a construção de um mundo. Cada qual coloca o tijolo que lhe foi determinado e constrói o que já está planejado, mas você ergue seus mundos e fabrica vida além da vida; tudo para se libertar da ofensa que é existir com os objetivos após.

É difícil entender quem vive com um mundo em expansão dentro de si, mas, pouco importa, eu sei; você está apenas oferecendo em holocausto seus pensamentos. Outros pensaram/pensam para existir, mas você pensa para se implodir; até você não sabe conviver com a grandiosidade e a vastidão do seu “eu” interno.

Você procura a saída, mas quer deixar as portas abertas, sempre. Meu caro, nem todos sabem andar pelos seus caminhos, por isso, as portas, muitas vezes, são entradas e não saídas. É duro aceitar você e seus argumentos, suas conclusões de vida e suas insinuações de verdades. Não pense que penso que quero segui-lo, estou aquém de sua completude. É insuportável ter que ouvi-lo e ainda concordar com você; todavia, quem há de discordar sem que se passe por ignavo?

Nada a declarar? Como? Você se declara culpado por saber pensar e por confundir aqueles que pensam que pensam, mas, na verdade, apenas têm estímulos adquiridos e repetidos; nada que acrescente degraus na evolução. Você é mesmo insuportável.

Mário Paternostro