O dia do José da Silva
O dia não poderia ter sido pior. Más notícias pelo mundo inteiro. Um ataque terrorista, um vazamento sério numa usina nuclear e as bolsas de valores do mundo inteiro caindo, caindo. A Coreia do Norte finalmente levou a cabo as suas antigas ameaças, e declarou guerra à Coreia do Sul. Um louco, mais uma vez, saiu atirando na multidão e matou mais de 80 pessoas nos Estados Unidos.
Certamente, no dia seguinte, as consequências do que acontecera iriam refletir, com toda sua força, por toda a parte. Nos países desenvolvidos, nos que estão se desenvolvendo e certamente naqueles que nunca vão se desenvolver. A economia iria sofrer mais, outras consequências iriam afetar muita gente. Aquele tinha sido o pior dia das últimas décadas.
O José da Silva não sabia de nada disso. Tinha passado o dia todo ocupado em remexer as latas de lixo da cidade, procurando alguma coisa útil para sua sobrevivência. Daí que viera seu apelido: Zé da Lixeira.
Lá estava ele na Paulista, vindo da Consolação, em direção ao seu “ponto”, onde iria descansar. De repente, um carro parou, saiu uma moça e caminhou em sua direção. Abriu a bolsa, e lhe entregou umas notas e um saco de papel com dois enormes sanduíches. Despediu-se, pegou o carro e partiu. O Zé da Lixeira não acreditava no que estava vendo. Além dos enormes “sandubas”, estava com quinhentos reais nas suas mãos.
Desde que ele se lembrava como gente, aquele tinha sido, de longe, o melhor dia de sua vida...
No dia seguinte, indiferente a tudo, o mundo continuou em sua rotação normal em volta do sol, e este, com toda sua turma de planetas, continuou a girar em torno da galáxia. O Zé da Lixeira, entretanto, foi uma exceção. Não fez jus a seu nome e tirou um belo dia de folga.
Pelo menos naquele dia, nada de lixo em sua vida.