As Flores do Jardim
(Os três textos fazem parte de uma trilogia filosófica: As Flores do Jardim, O Papel do Jornalista e Saber Ouvir)
Todos os dias era a mesma coisa. O dia amanhecia. O sol lá estava...
Todas as manhãs eram assim... No jardim flores de todos os tipos e cores: lírios, crisântemos, margaridas, dálias, rosas e jasmins.
Borboletas de todas as cores por ali circulavam... Beija-flor iam e vinham por entre as rosas, lírios e jasmins. Os canários rodopiavam e faziam sua cantoria no jardim... Os Bem-te-vis davam seus recados e até os quero-queros vinham dar o bom dia aquele lindo jardim.
E era assim todos os dias... Todos os dias a vovó Lúcia acordava cedinho. Cinco horas da manhã. Fazia o café. A neta dormia...
A neta que ela adotara, perdera os pais ao nascer... E hoje era seu aniversário, completava 20 anos. Fazia faculdade e em breve se formaria.
O jardim estava lá todos os dias e a vovó também... A vovó Lúcia não esquecia dos seus dois amores: A neta e as flores, por isso cuidava com todo amor de ambas. Depois de fazer o café para a neta ia até seu jardim. Já era 6h. Hora de regar as flores. Era sagrado, tinha até hora marcada: 6 da manhã e 6 da tarde. Vovó Lúcia dizia sempre a neta:
_ As plantinhas sentem e estão vivas! Olhe como estão felizes; cada dia mais lindas... Precisas ver o jardim!
Mas a neta não lhe dava ouvidos. E dizia: _ Vovó, já viu quanto gasta de água com essas flores todos os dias?
Nunca fiquei pensando o quanto gastei de água enquanto tomavas aqueles banhos demorados ou mesmo quando você comprou a piscina... (pensava)
Vovó Lúcia permanecia regando e sorria ao ver aquele lindo jardim.
_ Vovó, a senhora gasta muita água... A neta estudava Recursos Hídricos. Estava explicado. Quando Lúcia voltava do jardim, passava pela área onde ficavam as violetas. Parava e conversava com elas: _ Bom dia minhas lindas! Continuem assim...
As violetas estavam floridas e era difícil de comparar a beleza das flores.
Os anos passam e um dia Lúcia é tomada por um mal súbito. Sente saudades do perfume das flores, mas não pode visitá-las. Não pode nem regá-las. Doente, com idade avançada, sem forças nem para regar as flores, Lúcia expira e parte. Restou a neta e as flores, seus únicos amores ali ficaram. Lúcia foi.
Passados algumas semanas, a neta que não tinha os mesmos hábitos da avó, esquecera que aquelas flores eram seres vivos e que não poderiam sobreviver sem o líquido precioso que sua avó lhes dava todos os dias. As violetas, não tinham mais nenhuma flor. Algumas já estavam morrendo. E o jardim?
Ninguém acreditava que no meio daquele monte de galhos secos um dia existiu flores...
Cuidar da natureza, poupar água, cuidar das árvores, evitar que sejam cortadas. Poupar papel, reaproveitar, reciclar, não gastar água lavando calçadas. Tudo isto faz parte de nosso cuidado com a natureza e o meio ambiente. Mas não podemos fazer tudo isto se esquecendo das pessoas e da vida. Precisamos sim preservar a vida e acima de tudo valorizar aqueles que estão ao nosso lado e seus valores.
Ismênia Nunes
Semana do meio ambiente – 04-05-13 / 19h13
O papel do jornalista
Cada profissional tem o seu instrumento de trabalho. Algo que se lhe fosse tirado não seria possível executar com a mesma precisão seu trabalho.
Os que trabalham na agricultura, a enxada. Uma tesoura não lhe serviria.
Ao músico, o instrumento musical. E se este músico toca somente violão, de nada lhe adiantaria lhe presentear com um violino. Levando em conta que não tocaria de pronto. Precisaria de um período de adaptação, de um aprendizado.
Ao jornalista, seu principal instrumento é a caneta e o papel. E mesmo que já estejamos no século XXI, muitos ainda necessitam do mesmo papel. Necessitam de pegar e sentir e de ver seu trabalho. Sem caneta e papel ou sem o papel, muitos jornalistas sentem-se como se o trabalho não tivesse sido executado. O papel ainda faz parte de nossos dias e os profissionais da área de comunicação ainda sentem essa necessidade de escrever e de utilizar o papel e a caneta. A necessidade de sentir a textura do papel. A necessidade de tocar e de visualizar o texto, o trabalho, impresso em papel...
Embora alguns digam o contrário, o papel ainda fará parte da vida de muitos profissionais e principalmente fará parte da vida e do dia a dia do jornalista. O jornal impresso ainda será o companheiro de muitas manhãs e até de muitos cafés da manhã de muitos...
Ismênia Nunes
04-05-13
Saber Ouvir
“Como repórter e como gente eu sempre achei que mais importante do que saber perguntar era saber ouvir a resposta...”
Eliane Brum – Repórter e escritora
E foi pensando nesta frase de Eliane Brum que reproduzi esta história um dia contada por um de meus professores de jornalismo. O professor Túlio de Sá. Ele dizia mais ou menos assim:
Uma empresa que fabricava creme dental notou uma falha técnica em seu sistema operacional. Algumas embalagens do produto estavam passando vazias na esteira. As reclamações dos clientes estavam chegando. A empresa estava perdendo a clientela. O negócio, e os lucros estavam caindo. Na verdade a empresa não sabia qual era o verdadeiro problema.
Diante do problema, a diretoria se reuniu, a reunião foi demorada. Concluíram que precisavam fabricar uma máquina. Ela pesaria as caixas dos produtos e faria o descarte daquelas que não estavam com o creme dental. O investimento seria alto. Mas não poderiam continuar perdendo a clientela. Nem o respeito e o mercado até então conquistados. A máquina foi idealizada segundo os melhores conceitos de tecnologia e inovação. O custo estava perto de R$ 5 milhões. O investimento foi aprovado e a empresa adquiriu a máquina que salvaria a do descredito.
Passado um mês, a equipe de técnicos foi chamada. A máquina não funcionava. Na verdade nem ligava. Todo investimento sem efeito. Nova reunião com a diretoria. Após várias tentativas o problema persistia. Seis meses se passaram e nada. A equipe retornou. Nova vistoria. Impressionaram-se ao ver a esteira em funcionamento. Sem entender como os funcionários tinham consertado a máquina fizeram o questionamento mesmo sendo técnicos.
_ Como fizeram funcionar a máquina, se nem mesmo os engenheiros mais experientes tinham resolvido o problema?
_ Não consertamos, disse o funcionário da área operacional. Na verdade a máquina nem foi usada, está lá num canto. Nunca ligou.
_ Mas então como o trabalho está sendo executado?
_ Simples. Fizemos uma “vaquinha” _ Vaquinha?
_ Sim fizemos uma vaquinha e compramos um ventilador. _ Ventilador?
_ Sim. Cada vez que a caixa de creme dental vazia passa o ventilador a direcionava para fora da esteira. Este o motivo de não mais haver caixas vazias e ter findado as reclamações dos clientes.
Saber ouvir é mais importante do que tomar uma decisão sem consultar aqueles que estão diretamente envolvidos no trabalho, seja ele quem for. Antes de a diretoria tomar uma decisão, que tal consultar a área técnica, operacional, ou mesmo um estagiário?
Ismênia Nunes
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As Flores do Jardim
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