A faixa
A faixa
Outro dia uma estudante, aparência de ensino médio, me repreendeu. Nem retruquei, por que ela tinha razão.
Ela chegou para atravessar a rua e lá estava eu dificultando a sua passagem parado em cima da faixa de pedestre, tentando cruzar a avenida, só que de carro.
Naquela circunstancia não faria sentido argumentar para ela que defendo, incondicionalmente, que as vias públicas pertencem primeiro aos pedestres, em segundo lugar aos ciclistas, depois aos motociclistas e por último aos automóveis, mesmo onde não se tem faixas de travessia. A justificativa é a vulnerabilidade dos primeiros em relação aos últimos.
Ela não sabe, também, que há muito ando cismado com os responsáveis pela sinalização que orienta o fluxo de gente a pé e motorizada nas vias públicas e, particularmente, com a localização das faixas de pedestres nos cruzamentos das ruas e avenidas sem semáforo, o tal sinaleiro.
O motorista, mesmo aquele respeitador do princípio de que os mais vulneráveis têm a preferência, não consegue cruzar uma rua ou avenida sem avançar o seu veículo até o início do logradouro. Ao fazer isto, inevitavelmente, ele ficará sobre a faixa do pedestre interrompendo ou dificultando a sua passagem. Foi o que aconteceu comigo e a estudante.
Ela tinha razão, o caminho era preferencialmente seu. Eu não tinha razão, mas não tinha alternativa, aquela avenida exige tanto cuidado que a sua travessia, com segurança, só se pode fazer quando se tem a visão ampla do fluxo de veículos à esquerda. E, em função dos veículos estacionados, dos arvoredos, esta ampla visão só é conseguida ao avançar o carro até a borda, às vezes um pouco mais, do leito da avenida. Ao fazer isto, o carro ficou sobre a faixa de pedestre perturbando a passagem da estudante que, educadamente, me repreendeu.
Tem solução. Da parte dos sinalizadores de vias públicas, ao pintarem as faixas de travessia de pedestres, onde não há sinaleiro, o fazerem à uma distância da borda da rua ou avenida, que permita um carro de tamanho médio parar sem obstruí-la. Da parte da estudante, atravessar sempre na faixa. Da minha parte, enquanto os responsáveis pela sinalização não se convençam desta sugestão, vou evitar as travessias nas ruas sem sinaleiros!
João dos Santos Leite
Psicólogo – CRP 04-2674