Protestos, Espiritualidade e um Paraíba Cronista
Estou na encruzilhada que cruza a Faria Lima com a avenida JK. Não sei bem como fui parar ali, mas a grande massa de jovens protestando avança na minha direção. Tenho medo de multidão, mas não há como escapar, ou me junto a eles ou eles vão me levar; porém surge uma terceira via: observar.
Engrenagens de um relógio, ponteiro gira lá e ponteiro gira cá; em movimentos circulares de outras dimensões repercutindo no inconsciente coletivo e atingindo a grande massa que se manifesta por qualquer que seja o motivo social que mais lhe apetece. Trimegistro com seu bastão de ponta de diamante avisa: quando a massa se movimenta reflete ações tanto internas quanto esotéricas.
Continuo observando e o corpo do coletivo que parece vivo se divide em
duas cabeças, uma segue para a esquerda ( Paulista) e a outra para a direita ( marginal). Naquele momento, percebo a força que se constrói quando dois ou mais se juntam para rezar - o protesto é uma reza, reza brava que faz tremer as nações e assustam poetas.
Um corpo coletivo sem lider é como um trem sem maquinista que parece seguir numa direção, mas que desgovernado pode descarrilhar em qualquer parte da trilha. Quem leva a multidão ou a multidão segue direções invisíveis que começaram esse movimento nas primaveras árabes e continuam pelo inverno brasileiro?
Continuo observando o dragão se dividir em dois. Um manifestante vem na minha direção e convida: " vem?"; vou! Não penso duas vezes, a febre da multidão me contagia, porém ao dar o terceiro passo e gritar o primeiro verbo, dou-me conta que, médium, ou eu estava incorporado pela multidão...ou pela televisão.