DO VALETE AO ARQUIMEDES, QUE SAUDADES!

DO VALETE AO ARQUIMEDES, QUE SAUDADES!

Outro dia caminhava pela Av. Governador José Malcher esquina com a Travessa 14 de Abril, de repente algo chamou minha atenção, havia um pássaro posicionado sobre o sinal de trânsito, que orienta o tráfego da José Malcher, fiquei parado na calçada de um supermercado em frente a faixa de pedestres observando aquela cena e não sei se por coincidência ou não, ou fruto da minha imaginação toda vez que mudava o sinal a ave cantava, dava um gorjeio interessante, continuei parado divagando por alguns minutos apreciando o quadro urbano interessante que a natureza me apresentava.

Ao prosseguir minha caminhada, voltei aos tempos de criança e lembrei-me de uma figura que marcou a paisagem urbana da Belém daquela época. Era um guarda de trânsito também chamado inspetor de veículo conhecido na cidade como Valete, que orientava o vai e vem dos carros, repreendendo os motoristas que desobedeciam as leis primárias do trânsito. Valete levou a sério a sua profissão mesmo após a sua aposentadoria cujo uniforme roto, junto com o celebre apito e um bloco de anotações nunca desprezou em suas andanças pela cidade. Esse personagem urbano foi cantado em verso e prosa pelos poetas e menestréis dentre as quais me lembro de uma marchinha de carnaval que alegrou os carnavais da década de 50/60 em Belém que dizia mais ou menos assim: “Dá licença, dá licença Valete, dá licença que eu quero passar, nesse ano eu vou pintar o sete, o tempo é ouro e eu quero aproveitar”. No final de sua existência talvez já esclerosado pelo tempo, a população fazia troça de suas atitudes junto aos motoristas infratores.

Anos mais tarde a cidade ganhou outro anjo do transito chamado Arquimedes, um gigante que impunha respeito não só pelo seu tamanho, mas com os gestos e apitos muitas vezes exagerados orientando o trânsito na confluência do Boulevard Castilhos França com a Travessa Frutuoso Guimarães, fazendo o ir e vir de pessoas e veículos fluir normalmente naquele ponto de estrangulamento no já caótico transito de Belém. O engraçado é que quando o Arquimedes era substituído por outro guarda, aí era um Deus nos acuda. Esse cidadão ficou famoso nacionalmente servindo de fonte de matéria prima para as temáticas na mídia daquela época sobre a divulgação do seu trabalho.

Que saudades do Valete e do Arquimedes! É bem verdade que o cenário atual não é mais o mesmo. O número de carros aumentou e muito em relação àquela época, o descaso e a corrupção tomaram conta das instituições que deveriam salvaguardar a população em todas as áreas. Os tempos são outros, hoje é um martírio andar nas ruas de Belém, quer como pedestre ou como condutor de veículos, ao fim do dia ficamos estressados e muitas das vezes promovendo determinadas atitudes no transito, que acabam enriquecendo as páginas do noticiário policial, além de levar o desespero para os familiares das pessoas envolvidas nestas contendas urbanas. Como diria o Comendador Mário Sobral: “Valha-nos quem!”.

ACM Cavalcante
Enviado por ACM Cavalcante em 25/06/2013
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