Vandalismo: os violentos e os violentados

Muitas dessas pessoas que participam das arruaças e bandalheiras são pessoas extremamente carentes, sem muitos recursos mentais para se organizar e se comportar e de camadas onde o Estado quase não atua e não distribui os benefícios das políticas públicas. É repreensível esse tipo de comportamento violento e o vandalismo. Mas quem entende essas pessoas? Por que agem dessa forma? E a violência dos gestores públicos com relação a população quando há péssimo atendimento médico e público com relação a outros serviços? O vandalismo que a corrupção engendra na sociedade de forma sorrateira, silenciosa e tácita? Não se deve depredar patrimônio público e privado, mas o que significa vidros e ônibus e lojas depredadas frente a vidas ceifadas fisica e psicologicamente, quando estas dependentes de serviços públicos não os têm em qualidade e quantidade mínimos e justos (pelos impostos que pagamos)? Concordo com o que a sociedade vem manisfestando contra o vandalismo e violência nos protestos, mas lamento a rotulação que também as autoridades vêm providenciando sobre o comportamento dos que são chamados de vândalos, quando na verdade isso parece o resultado de um movimento que foi integrando várias camadas da sociedade até chegar as mais revoltadas. E entre muitos dos quais os mais revoltados por consequência de serem os mais mais esquecidos pelo Estado e pela sociedade, e o resultado foi esse. Prefiro tentar compreender esses que são os mais revoltados. Porque o dia em que o Estado atuar nessas camadas, de forma efetiva, eficiente e eficaz, e conseguir dar-lhes mais serviços públicos de qualidade, impactando realmente em suas vidas, os provendo de educação, saúde, segurança (Tanto para eles quanto para todos os brasileiros. E especialmente para os mais necessitados, pois isso também impacta na vida dos mais bem supridos pelos recursos públicos e privados. Porque afinal de contas, a questão também é da vida social e coletiva.), é bem provável que os níveis de manifestações violentas sejam reduzidos. Integrando-os a sociedade, e por consequência construindo-se mais consciência entre estes, estarão estes então mais revoltados, violentos e violentados, mais pacíficos. Terão mais paz e conhecimento sobre como se organizar, se comportar, atuar. Essa questão do comportamento vândalo seria mitigado ao mínimo do mínimo. Se atuarmos assim nas camadas mais necessitadas, quem dirá o que as outras camadas que são (e foram) mais bem servidas de recursos públicos e privados, de educação, de participação social, etc, poderão fazer por essa sociedade e País. Tudo, me parece, seria mais bem desenvolto, organizado e eficaz. Porque na dimensão social e coletiva essas benesses se irradiam, e se refletem, entre todas as classes, camadas e populações.

Afinal, quem já fez um exercício de tentar entender o circuito e processo ante a quem atira uma bala que se torna perdida e chega de forma letal a cabeça de um inocente? Entender quem atirou, nas suas motivações e situação no ato, e o que aconteceu antes deste na sua vida para estar nesta situação de apertar um gatilho? Façam e terão uma ideia do que estou falando. São pessoas como nós que tem corpo, mente e coração. E que estão no apertar do gatilho e no ser atingido por uma bala perdida na cabeça.

Vamos entender todos os pontos, pessoas e camadas da sociedade, porque isso nos cabe e é nossa obrigação, através da consciência que temos e da oportunidade de construí-la pela educação e conhecimentos que adquirimos e desenvolvemos. Mas também, e especialmente, atuar.

Os verdadeiros vândalos dessa história são os políticos e gestores públicos, mais quem coopta com estes, que negligenciam, roubam e se aproveitam pessoalmente do patrimônio e erário públicos, para interesses particulares, familiares e de grupos. Em detrimento do Povo (que é quem sustenta isso através dos impostos). Coloque entres estes os que são inertes ao que sabem sobre corruptos e corrupção. Os que compactuam explicitamente e tacitamente com corruptos e corruptores. E se querem saber o que é depredação do patrimônio público visitem os prédios público de serviços sociais, como atendimento e as dependências de hospitais públicos, depósitos públicos, as obras públicas inacabadas (transposição do Rio São Francisco, a Rodovia Transamazônica, as ferrovias, estradas, pontes e prédios inacabados, as escolas públicas estaduais e municipais, etc). Vejam as condições de trabalho de professores, médicos, promotores públicos, juízes e grande parte dos demais funcionários e profissionais da área pública que prestam serviço essencial a população. E observem a qualidade e a quantidade dos parcos serviços públicos que as populações mais necessitadas e empobrecidas recebem e se de fato deles se beneficiam. Tentem se colocar no lugar dessas pessoas mais fragilizadas socialmente!

Sou piamente contra a violência. Mas onde não há justiça dificilmente haverá paz! Se há corrupção, implícita ou explícita, e negligência com o Povo, definitivamente não haverá Paz! Seja no curto, no médio ou no longo prazos. Não é questão de gosto, afinidade ou de ideologia. É uma condição lógica, e até psicofísica, baseada na Lei da Causa e Efeito! E esse ambiente do Brasil atual está favorecendo a esporulação de todos os tipos de protestos e manifestações. Desde a pacífica, inteligente e legítima, com a participação da maioria. Até a mais revoltosa, as desesperadas e as violentas daqueles que só assim conseguem reagir (se "organizar" e atuar) contra o que vem se passando durante toda as suas vidas (e até durantes as vidas de suas gerações passadas). E neste cenário e caldo social todo tipo de coisas ruins são possíveis de surgir entre comportamentos e ações. Da parte da população, e em específico de determinados grupos de pessoas, e da parte do Estado e Governos.

Quem irá cuidar e defender esses menos favorecidos pela sociedade, entre os violentos e os socialmente violentados? E daqueles mais vis que negligenciam seu papel e trabalho político, gestor e público? Porque se assim agirmos, cuidando adequadamente tanto dos mais revoltados e necessitados quanto dos corruptos, negligenciadores e irresponsáveis com a sociedade, a cada dia estaremos mais perto de uma sociedade sem barbárie, e por isso mais justa e pacífica (não passiva!), seja na gestão pública e na política seja na sociedade civil.

Alexander Herzog
Enviado por Alexander Herzog em 24/06/2013
Reeditado em 27/06/2013
Código do texto: T4356490
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