Casal classe C

Mês de janeiro, a classe média baixa atual C está se multiplicando como barata pelo país. Shoppings lotados, crianças cada vez mais mimadas e adultos cada vez mais consumidores. O problema é que se esquecem do bem maior saúde. Saúde física e mental.

As agências de viagens não dão conta de tantos “pacotes” pelo Brasil a fora, Disney, Europa, Cancun, Chile para aqueles mais inteligentinhos e cruzeiros marítimos. È a moda!

No meio dessa multidão existe o time dos casaizinhos. O rapaz trabalhou o ano inteiro incansavelmente se desdobrando em horas extras, deu entrada no carro novo antes dos trinta. Coisa que nem os mais otimistas dos pais sonhavam para seus filhos anos atrás. A namorada cobrava ansiosamente o noivado, pois já estava com 25 anos e precisava se casar! Ah! Pensando bem século XXI. Um algarismo muito pequeno para mudanças culturais mais modernas. As amigas da cidadezinha só falavam nisso. O meu comprou... Minha sogra é..., fulana se deu mal... Tudo girava em torno do TER e do OUTRO.

A agente de viagem que de cara já causou dor de cotovelo à namorada atende o casal muito bem. Explica tudo sobre o hotel, translados, refeições, etc. O rapaz ficou com vergonha de perguntar o que era translado na frente da moça. A namorada riu e disse: É quando te levam de graça do aeroporto para o hotel!

O casal saiu da agência como se fosse da nobreza britânica. Cabeças erguidas. Chegaram a julgar os outros como loucos por só pensarem em comprar e não aproveitarem seu dinheiro com aqueles que amam como eles estavam fazendo. Que coisa de gente insensível, sem cultura! Viajar sim é o “canal”, amplia os horizontes, disse o rapaz metidinho e endividado.

O que eles não sabiam é que conviver apenas um com o outro sem ter de quem falar era muito difícil. Ela quase enlouqueceu quando chegou ao hotel e percebeu que esquecera o celular que dava acesso á Internet e o dele era sem chance. Estava fora de cogitação ligar para uma amiga para saber das fofocas. Ficaria uma fortuna.

Foram dois dias de alegria, sexo e surpresas. Olha que cama grande, quando casarmos vou querer uma dessas!Você viu meu amor, eles têm ovos e bacon no café da manhã igualzinho nos filmes! Aproveita para comer bem porque o pacote não inclui almoço.

Terceiro dia dos sete que seriam desfrutados. Ela já “enfezada” só sabia olhar para as mais magras e comentar os biquínis indecentes. Ele só pensava em pedir camarão com cerveja na praia e fotografar para exibir aos colegas da fábrica.

No quarto dia deu-se a primeira briga. Ela o acusava de ficar babando na bunda alheia e ele vinha com frases que a faziam acreditar que ela é que era insegura.

Quinto e sexto dia o casal resolveu fazer aqueles passeios para conhecer os pontos turísticos... Assim não precisariam ficar olhando um para a cara do outro. Meia dúzia de palavras foram trocadas. Tá! Pega aí! Muito caro! Cinco reais uma água, roubo! Nenhum “meu amor” ou “obrigado” foi dito.

A verdade é que os dois nunca tiveram a oportunidade de conhecer outra cidade fora do Estado, nem um ao outro profundamente. Imagina outra cultura, outro mundo, onde não se pergunta o preço de nada, não se comenta sobre a roupa alheia, apenas observa-se os diferentes comportamentos sem julgamentos.

No sétimo dia a briga “mor” foi na esteira do aeroporto. Eles estavam achando o máximo estar ali junto aos outros ricos. Era assim que se sentiam, mas fingiam não dar a mínima para aquilo. Pareciam até terem se esquecido do fato de não terem se suportado durante a viagem.

Acontece que a mala dela não veio! Em poucos minutos a máscara de casal bem educado caiu. Ele a acusava de burra por ter se esquecido de identificar a mala e ela o atacava lembrando de atitudes nada inteligentes do passado como a vez em que ele emprestou dinheiro ao irmão alcoólatra para dar uma festa regada à funck.

A verdade é que ele não a suportava mais e ela precisou ficar só com ele para perceber que não o via como antes.

Claro que o rompimento não foi tão civilizado como gostariam de ser. Brigas, fofocas e muita baixaria foi preciso para os dois entenderem que aquilo tudo não era suficiente para trazer de volta os sorrisos adolescentes e apaixonados que uma dera ao outro no passado.

Glauce Leite
Enviado por Glauce Leite em 24/06/2013
Código do texto: T4355718
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