5 - A MALDADE HUMANA
Já estava longe das ruas a muito tempo e pensava que não veria mais o resultado da maldade humana tão de perto, quando numa tarde de sábado talvez de 2005, subi morro das Abertas, na zona Sul de Porto Alegre, como fazia duas ou três vezes por semana. Este morro é repleto de trilhas. Uma delas cortava o interior de um renque de Pinus elliottii e próximo ao final havia um cão preso por um fio de luz. O pobre animal estava sendo devorado vivo por bichos, que eram acompanhados pela sinfonia frenética do voar de moscas de toda variedades. Ele quase morto ainda olhou-me suplicando o fim daquela agonia.
Não havia o que fazer, só restava descansá-lo, então com uma pequena faca que carregava cortei o fio de cobre. Ele passou ali mesmo depois de um estampido de misericórdia, que ecoou na mata como se fosse um toque de silêncio.
Fico imaginando se tivesse pego o criminoso em flagrante, no momento que abandonava o pobre animal, ali amarrado.
Do livro: A maldade humana 2013 - 2020