Manifestações: Qual a direção?
Insatisfações coletivas vêm à tona e um coletivo de insatisfeitos vem pra rua. Jovens inquietos, outros nem tão jovens, que 'nunca antes na história desse país' tiveram coragem de por a cara na rua, agora tem. Entende-se, agora temos uma democracia que lhes permite isso, sem maiores problemas...
Afinal, qual é a sua pauta de reivindicações?
O que querem eles e elas?
Muitas coisas, estão frustrados/as e descontentes com tudo. O modelo de sociedade que temos não serve. Então é preciso maior clareza e objetividade para dizerem 'que outro mundo possível' desejam. Do contrário, o movimento pode caracterizar-se pejorativamente como expressão de armadilhas egóicas e crises existenciais. E aí como diz Alice no País das Maravilhas: 'para quem não sabe aonde quer chegar qualquer caminho serve'.
Talvez isso seja um risco, porque questões evasivas não dão direção ao movimento e aí, sabe-se como começou, mas como irá acabar, quem saberá? Também temos dúvidas e inquietações...
Há o risco de tentar-se implantar a ideia da neutralidade política, ou a bandeira da neutralidade já é uma ideologia? E esta será a bandeira de luta dentro de uma nova democracia?
Desconhece-se uma democracia desprovida de partidos políticos, são estes que dão sustentação à democracia...
Que a democracia representativa não nos serve, faz um bom tempo que sabemos. Por conta disso há mais de duas décadas, temos interessantes iniciativas de democracia participativa e aí será que temos nos mobilizado para ocupar esses espaços legítimos de participação popular e cidadã?
Ou estamos desinformados a respeito? Quem deveria nos in-formar a respeito?
A escola teria algo a contribuir nesse sentido?
A propósito, como fica a escola neste e a partir deste contexto?
Será apenas um vento forte em meio ao frio do inverno?
Talvez... mas talvez seja o prenúncio de uma primavera precoce... Talvez a educação sinta-se também convidada a refletir e a se repensar a partir da lógica das redes cibernéticas. E aí a modernização tecnológica das escolas será um dos primeiros passos necessários dessa caminhada?
A Pesquisa Socioantropológica ao acreditar que é da cultura dos jovens que emergem os conteúdos, será também um bom início de caminho?
Ou será possível a escola continuar a insistir caminhando com o currículo descolado da vida dos alunos/as?
Apesar de tantas dúvidas, há muito de esperança nesse levantar das massas, há muito de sonhos por desabrochar e muita cidadania por fortalecer-se. Conforme Rosa Luxemburgo 'aquele que não se movimenta, não sente as correntes que o prendem.' Se este movimento servir para que possamos perceber as correntes que nos prendem, alavancando o processo civilizatório e a vida em sociedade, valeu a luta...
Penso prematuro expressar maiores conclusões a respeito. É refletir, refletir... acalmar as inquietações diante dos rumores, acalmar o desejo de tentar controlar o incontrolável, acreditar na vida, no bom senso dos manifestantes e, especialmente, nos resultados positivos que por certo emergirão desse momento histórico.