Diário de Sonhos - #042: Armadilha
Ah, a escola... Como era legal ir pra escola! Mas só no último ano, quando a diretora pessoalmente organizou as salas de modo a separar os estudantes dos bagunceiros. Até então eu estava na sala dos bagunceiros. Gordo, feio e esquisito. Foi uma época bem ruim, e talvez por isso eu tenha tantos pesadelos ambientados na escola.
No último ano mais um andar começou a ser adicionado ao prédio e era expressamente proibido aos alunos subir lá. Eu e meu amigo Alexandre subíamos lá pra ler. Odiávamos o intervalo, a barulheira, as pessoas tirando sarro da gente (ele também é gordo). Não podíamos ficar na sala, então fugíamos ou para a biblioteca ou para o último andar.
Em dias nublados e chuvosos aquele lugar ficava bem sinistro e não foi apenas uma vez que eu imaginei histórias de horror ambientadas ali.
Eu sonhei...
Sonhei que estava de volta à escola, com meu amigo Alexandre Moreno. Era de manhã, mas estava nublado e fazia muito frio. Estava tudo silencioso e a escola estava vazia e escura. Tínhamos um trabalho pra entregar e não sabíamos qual a nossa sala. Andamos pela escola inteira. Aí ele sugeriu que fôssemos até o último andar. Eu não queria subir lá, mas ele saiu correndo e eu o segui devagar. Quando cheguei lá em cima chamei por ele, mas não respondia. Ali estava mais escuro do que todo o resto da escola, como se as janelas estivessem cobertas. Fui seguindo pelo corredor, passando pelas portas fechadas das salas de aula. Nas portas haviam janelinhas redondas. Todas estavam tampadas com papel. Quanto mais eu adentrava o corredor, mais escuro ficava. Sentia como se estivesse sendo atraído até a última porta. Um zumbido grave saía de lá e eu sabia que precisava entrar naquela sala.
Estou dentro da sala. Ela é pequena. Tem uma mesa sobre a qual tem algumas velas apagadas e um livro aberto. No chão um enorme desenho pintado. Um círculo com uma pirâmide dentro. Uma criança está deitada, chorando e escondendo o rosto. Assim que me aproximo ela desaparece. Ao fundo da sala aparece uma menina com vestido preto e cabelos longos. O rosto é branco e olhar dela tem algo que não dá parar de olhar. Ela segura uma boneca e parece estar flutuando (pra quem conhece, é aquela foto da menina do corredor que circula pela internet). Então aparecem várias outras meninas iguaizinhas. Elas estão de mãos dadas e formam um círculo completo em volta de mim. O círculo começa a girar e fechar lentamente. Elas se aproximam de mim e eu não consigo me mexer.
Aí eu acordei...
Vinte e três de junho de dois mil e treze.