Polisia
Eu, que não sou preta, parda ou indígena, regada a Anglo Sistema de Ensino – forte, mais forte, fortíssimo -, fui declarar estado de absurdo para o PIMESP. E veio a questão da permanência estudantil, não seria mal que fosse pública a chance à Universidade Pública. Curti, compartilhei, postei umas frases. Eu, que não sou gay ou lésbica, fui de simpatizante. Eu, na minha marcha não tão vadia.
A mania de classificar veio de métodos de estudos, vícios em organização adquiridos por um dom inato e aprimorados pelo cursinho pré-vestibular. E daí parte a classificação: poesia e política. Poesia eu tenho para mim, bem perto e por dentro. A política era aquilo para se manter a título de observação panorâmica. Visto de cima.
A COBERTURA midiática dos movimentos sociais, principalmente no caso dos grandes veículos da imprensa brasileira em relação aos acontecimentos das últimas semanas, é feita de cima. De cima, de longe e com destaque não para a ideologia do movimento que preenche as ruas das maiores capitais brasileiras, mas para o coquetel molotov de quinze pessoas que devem ser submetidas a uma “reação mais efetiva por parte da PM”.
E assim eu recebi a greve na Universidade: é política. Mas, dessa vez, meu dedinho solidário, com direito a presença nas assembleias, se queimou. Falaram em uma graduação que aguarda a contratação de 9 professores, lidando com um quadro docente de substitutos e turistas do mundo. Falaram em disciplinas de carga horária driblada e em um planejamento de curso que ensaia a reprodução de técnicas e valores de um sistema de COMUNICAÇÃO SOCIAL que não funciona. Aqui tudo começa a ganhar jeito de poesia.
Atinge-me PESSOALMENTE e frustra-me emocionalmente que parte expressiva das aulas do meu curso na Universidade seja frequentada em nome de um controle de presenças. Não pela conduta dos alunos submetidos a essa ferramenta burocrática, mas pela qualidade dessas aulas que, descartadas pelos discentes, parecem não se adequar ao contexto do jornalismo acadêmico e, ainda, não fazer falta para a conclusão do curso.
Soma-se a essa situação-exemplo uma série de outras falhas de planejamento e execução, que se tornam pautas de corredor e de mesa de bar, mas que permanecem como os “ossos do ofício”. Estávamos ocupados e distraídos demais para reconhecer a movimentação social e estudantil como caminho viável para a promoção das nossas mudanças. Principalmente porque a ‘cara a bater’ é de agora e as conquistas são legados.
É difícil demais botar em risco o registro de notas, frequências, livro de ponto – o que atrasaria o fechamento do semestre, a conclusão do curso, a imersão ao mercado de trabalho, a contratação, o salário (e os empecilhos da classe trabalhadora largam daqui), os estudos dos filhos – em nome de resultados tão fora de vista. Nossa honra toda aos méritos, à luta e à labuta. Cidadão bom é o que não se desvia de produzir para o Estado tudo aquilo que o Estado lhe devolve pisado e pela metade (ou por menos da metade).
Eu falei, comentei, curti, escrevi. Agora, eu estou aqui. E o Jornalismo UNESP também.