CRÔNICA DO INVERNO - publicada no Diário de Canoas - RS - INVERNO E SAUDADES - Ialmar Pio Schneider - Sempre quando chega o inverno eu me transporto aos tempos de criança, andando de pés descalços sobre a geada que cobria os campos da minha terra.

INVERNO E SAUDADES

Ialmar Pio Schneider

Sempre quando chega o inverno eu me transporto aos tempos de criança, andando de pés descalços sobre a geada que cobria os campos da minha terra. Hoje, distante, a saudade me visita e eu leio o soneto que fiz há alguns anos, lembrando aquele pedaço de chão onde ensaiei os primeiros passos e de que me afastei, por contingências da vida, mas do qual conservo as mais gratas recordações da infância. Diz assim: “SONETO A SERTÃO-(Minha terra natal) - Oh! terra onde nasci, berço de minha infância,/que sempre levarei dentro do coração,/batendo com ardor, em serena constância,/lembrando os tempos bons que já bem longe vão !...//Teu nome a recordar saudades e distância,/flores silvestres e quem sabe solidão,/há de permanecer tal suave fragrância/cá dentro de minh’alma, oh! saudosa Sertão !//Se assim Deus o quiser, em teu solo bendito/reviverei um dia o passado aos pedaços,/como o filho que volta ao lar: cansado, aflito...//Porém que, em retornando ao seu torrão natal,/lugar onde ensaiou os seus primeiros passos,/consegue um elixir pra curar o seu mal...”

No entanto, meus familiares já não residem mais lá. Estão espalhados pelo Paraná e Santa Catarina, também pelas citadas contingências da vida que os levaram à procura de melhores condições para enfrentar o dia-a-dia. Isto faz-me lembrar o romance Éramos Seis, de Maria José Dupré, que depois virou uma novela do SBT de grande audiência, protagonizada pela inigualável atriz Irene Ravache, entre outros não menos importantes atores. Só que nós éramos oito, os saudosos pai e a mãe (hoje falecidos), e seis irmãos

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em 9.7.2010

(duas mulheres e quatro homens, um dos quais também falecido há pouco, meu saudoso mano Remi, para o qual escrevi umas palavras doridas aqui, quando do seu passamento, por assim dizer, prematuro, em conseqüência de cirurgia de vesícula malsucedida e hérnia, ao que me consta, tendo tido hemorragia e sua pressão baixado a zero. Tenho como um baque em minha vida esta perda, pois tratava-se de um irmão que também trilhava o caminho da poesia e se identificava comigo. Dir-se-ia fatalidade para justificar. Quem o sabe ?

Entrementes, os invernos foram se sucedendo, e agora fico recitando os versos do romântico Guilherme de Almeida: “SAUDADE - Só./Para além da janela,/nem uma nuvem, nem uma folha amarela/manchando o dia de ouro em pó.../Mas, aqui dentro, quanta bruma,/quanta folha caindo, uma por uma,/dentro da vida de quem vive só !/Só – palavra fingida,/palavra inútil, pois quem sente/saudade, nunca está sozinho: e a gente/tem saudade de tudo nesta vida.../De tudo ! De uma espera/por uma tarde azul de primavera;/de um silêncio; da música de um pé/cantando pela escada;/de um véu erguido; de uma boca abandonada;/de um divã; de um adeus; de uma lágrima até !//No entanto, no momento,/tudo isso passa/na asa do vento,/como um simples novelo de fumaça.../E é só depois de velho, uma tarde esquecida,/que a gente se surpreende a resmungar:/“Foi tudo o que vivi de toda a minha vida !”/E começa a chorar.../Messidor/Guilherme de Almeida”

Por outro lado, sabe-se que os invernos já não são os mesmos daqueles tempos, não obstante na serra gaúcha todos aguardem – residentes e turistas – a queda da neve que quase todos os anos acontece nesta época. Enquanto isto, os visitantes vão se deliciando com a gastronomia e os hotéis e pousadas ficam lotados, ainda mais que está para ocorrer o 31º Festival de Gramado – Cinema Latino e Brasileiro, a ser realizado de 18 a 23 de agosto.

Assim vou finalizando esta crônica em que mesclei inverno e saudade, ainda que me louvando no inigualável poeta romântico Guilherme de Almeida, para dizer do estado de minha alma no momento. Que tenhamos todos um salutar inverno do qual sintamos saudades amanhã !

Poeta e cronista – E-mail: rs080254@via-rs.net

Publicado em 12 de julho de 2003 – no Diário de Canoas.

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em 9.7.2010

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em 9.7.2010

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em 22.6.2012

Ialmar Pio
Enviado por Ialmar Pio em 23/06/2013
Reeditado em 18/06/2020
Código do texto: T4354174
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