DIREITOS SE FINANCIA COM DIREITOS?
Ultimamente nossa sociedade tem obtido notórias e reverenciadas conquistas no que tange aos direitos sociais, mas algo tem me chamado a atenção sob alguns aspectos dinâmicos de tais conquistas, na vida nossa de cada dia.
Mais precisamente hoje, um sentimento me norteou para o que aqui me disponho a discorrer, após ter ficado um bom tempo do meu dia na fila dum banco.
Tive a necessidade de quitar um documento na boca do caixa, e lá chegando fiquei feliz porque, apesar do meu tempo curto e de lá constarem apenas dois caixas para nos atender, a fila parecia pequena.
Apenas parecia, pois a fila era enorme...enormemente virtual.
Um dos caixas anunciava em letras gigantescas, a sua prioridade ao atendimento de idosos, gestantes, mulheres portadoras de crianças de colo e de pessoas com necessidades especiais.
E obviamente, não tardaram a aparecer várias naquelas condições.
Sempre que a fila andava um pouquinho, eu me agitava com a possibilidade de aparecer mais uma daquelas prioridades, posto que o tempo voava e não havia disponibilidade da instituição de viabilizar a contento de todos , a tal da prioridade da lei.
Pensei...deveria haver um caixa apenas para aquelas condições.
Nos supermercados, parece que as pessoas ainda não compreendem a diferença entre caixa exclusivo e caixa prioritário.Tenho presenciado muita confusão.
Ainda outro dia, estando eu num caixa anunciado como prioritário, um senhor me olhou feio, pois me informava que o caixa era exclusivo, e eu não deveria estar ali.
Rapidamente lhe forneci o seu direito, sem muita explicação.
E noutra oportunidade, no mesmo caixa prioritário,me adiantei, cedi minha vez a uma senhora que sentiu-se ofendida dizendo..."ainda não cheguei na idade da lei"!
Puxa vida, "mas eu não acerto uma"!-pensei.
Há que se preparar a sociedade para exercer o seu direito! Há que se ter infra-estrutura para se viabilizar as leis!
Mas poderíamos aqui estender esta observação.
Percebo que alguns movimentos de direitos individuais, muitos deles até garantidos pela constituição através do Estado, como o direito a teto, a escola, a vagas na universidade, direito à plena igualdade... todos me parecem caminhar para a bipolaridade dos direitos.
Não sei se é impressão errônea, mas sinto como se a conquista do direito de alguns negasse o direito de outros...como uma inversão do estado de direito e não uma universalização do direito.
Como se não houvesse espaço para o direito de todos!
Hoje, quando me olho...me assusto! Sinto-me meio apertada!
Chego a pensar se tenho realmente direito de ser razoavelmente jovem, sem criança no colo, de não estar grávida, de ser branca, de ser heterossexual, de ter cursado a universidade (mesmo que pagando por ela!), de ter teto, de ter emprego, de ser da quase extinta classe média, que aliás, "financia" muitos direitos através dos impostos, e de ter convicção e sensibilidade.
Afinal eu pergunto: Tenho direito a ter direitos?