Se minha cabeça não sabe aonde ir

Que adianta anos de estudos preparando os pensamentos para ficarem neutros e entenderem toda transformação por que passa a sociedade, se não obstante, me pego de bandeira baixa sem defender nenhum ideal? Em minha rotina, me reúno com um grupo de intelectuais, que nada mais são, senão seres humanos que se acovardam diante de reconhecerem com “simpatia” a imensa complexidade do comportamento e desejo humanos. Também sou engolida nesse processo, me sinto pequena e minha voz sumida dá lugar a risos sem graça e alguns monossílabos que me fazem incluída nesse contexto. Não percebo ali, nem a voz do educador, nem a voz que tem em seus familiares ou amigos, pessoas que resolveram ir na contramão. Me sinto mal, pois vivo na contramão e naquele instante mantenho a marcha na direita e a velocidade média, comportada. Será que uma instrução tão talhadora, baseada nos princípios machistas e nada favorável à mulher ou aos seres mais sensíveis, me faz calar e os fazem erguer risos irônicos, colocações mesquinhas que se distanciam do exercício para o qual fomos preparados? Não sei se algum dia terei a resposta, o preconceito é tão fincado em suas mentes, que acharam facilmente o caminho de suas almas, e o que era pelo menos para tentar entenderem, ordenarem, não o são. Eu mesma perco a voz da revolução, a sensibilidade poética, não construo verdades óbvias, sou de novo a menina que aprendeu calar-se, quando o receio, o constrangimento, tomavam-lhe as atitudes. Sei, meus caros colegas educadores, é um século de velocidade, de diferenças nas igualdades, não deveríamos sentir medo ou vergonha de tentarmos um passo à frente do que ensinaram os nossos pais, avós, mas, o que eu supunha simples, tornou-se vulnerável a sentimentos negativos, egoístas e nos encolheu de gigantes preparados para discutirmos comportamentos pautados na ética e no respeito a anãos perdidos e repetidores de conceitos ultrapassados que em nada acrescentam a nossos exercícios de cidadães e orientadores sociais, muito menos ao que chamamos de humanos. Vi ali naquele instante de reunião de estudados que em matéria de visar o mundo, não saímos do jardim da infância e perigosamente caçoamos da coragem de quem na correnteza dessa sociedade monopolizadora, nada contra a maré e confesso, fazia tempo, que minha cabeça não ficava assim, sem saber a onde ir.

Ada Mendes
Enviado por Ada Mendes em 22/06/2013
Reeditado em 22/06/2013
Código do texto: T4352928
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