Manifestação estudantil: as aventuras deste Bacamarte em Porto Alegre

Olá caros 23 fiéis leitores e demais 35 de um cafezinho à tarde de vez em quando. Como estarei offline amanhã, deixo agora um recado pra vocês.

Estava num protesto jovem agora há pouco. Foram tantas emoções!

Sábado à tarde eu venho aqui contar tudo para vocês, atualizando essa crônica. Quem tiver curiosidade de saber das aventuras desse Bacamarte num protesto estudantil, é só vir aqui, por volta das 16 horas.

Um grande abraço.

SÁBADO: ESTOU AQUI, MEUS CAROS 23 FIÉIS LEITORES, NO HORÁRIO MARCADO. E VEJAM QUE O BRASIL AGORA MESMO COMEÇOU A JOGAR CONTRA A ITÁLIA! VINDO DE UM BRASILEIRO, NÃO EXISTE PROVA DE COMPROMISSO LITERÁRIO MAIOR DO QUE ESTA.

Pois eu estive na quinta-feira, dia 20, em Porto Alegre, assistindo inloco a manifestação contra ao aumento das passagens. Porto Alegre é a cidade brasileira e gaúcha mais parecida com Charky City e com a minha amada Groenlândia.

Vim ver minha tia-avó de 103 anos, que está doente e internada num hospital. A velha já havia mordido um enfermeiro e brigado com a idosa da cama vizinha, que ela apelidou de "Monalisa", não sei o porque. Ela não quer ser dopada, está uma fera, mesmo com infecção pulmonar. Medonha, acho que ainda não é dessa vez que ela vai, que bom.

Buenas, na verdade o Toninho Júnior é que queria muito vir olhar o protesto. Eu, como também estudo, estou fazendo uma Pós, resolvi então trazê-lo e participar, afinal, também sou estudante!

Chegamos e fomos até a frente da prefeitura, onde os manifestantes se concentravam. Muita chuva. De cara "morri" com 20 pila em duas capas de chuva de plástico vagabundo que não valiam nem 5, para eu o e Toninho não pegarmos uma pneumonia. Afinal, o termômetro marcava 14 graus no final da tarde.

Mas a emergia era demais, o Toninho se achou. Só gurizada de 15 a 20. Eu nem era o tio ali, era o vovô. O pessoal todo do bem, numa boa, exercendo sua cidadania. "Se molhando de cidadania" - disse. O Toninho achou uma bosta o meu slogan e mandou eu ficar quieto pra não fazer ele passar vergonha. Vejam só a unha desse pirralho, só tava ali porque eu tinha trazido e já me dando letrinha.

O pessoal da polícia militar estava por ali distribuindo panfleto, defendo a liberdade de manifestação e solicitando que não fossem praticados atos de vandalismo e violência. Achei o máximo, pois na Groenlândia a polícia já chega sentado o braço e pronto.

Bah, parecia Woodstock aquilo. "No rain, no rain" - comecei a gritar! "Para pai", disse o Toninho Júnior, tão te olhando. Pensei em dar uma biaba no guri, mas achei melhor deixar passar mais essa. O pessoal começou a pular e cantar "Quem não pula é a favor do aumento!". Eu pulava também, ainda tô inteiraço e guento o tranco.

Depois de um tempo ali, começamos a caminhar. Se arrastamos como lesmas sob a chuva subindo uma avenida chamada Borges de Medeiros, onde achei no chão um guarda-chuva preto, que chamei de "arma revolucionária". Depois dobramos à esquerda (tudo a ver com o protesto, né) e entramos numa rua chamada Salgado Filho. Ali a passeata desafunilou e podemos caminhar normalmente. Dobramos à direita (ops!) e entramos numa rua chamada João Pessoa, aquela maré humana, quinze mil pessoas, vim a saber depois. Paramos um pouco em baixo de um viaduto, antes de seguirmos adiante. Santa paradinha, vocês verão porque.

Caminhamos, caminhamos, sempre saudados por moradores de prédios que aplaudiam, jogavam papel picado, apagavam e ascendiam as luzes rapidamente, até chegarmos numa grande avenida de duas mãos cortadas por um riacho (para mim um esgotão), chamada Ipiranga. Passamos a ponte sobre o "riacho" e o pessoal doboru à direita novamente. Não podia dar boa coisa tanta guinada à direita mesmo.

Vi que os dois helicópteros que acompanhavam a manifestação se concentraram com seus canhões de luz mais adiante na Ipiranga e por lá ficaram estranhamente imóveis pela primeira vez. "Tá, tá dando merda" - pensei. Dito e feito, logo comecei a ouvir os fortes estouros das bombas de gás, possivelmente lançadas pela tropa de Choque contra a gurizada. Ainda bem que, por termos uma boa parada no viaduto, estávamos um pouco atrás da metade da passeata, e não ficamos embretados na Ipiranga. Pensei comigo se era o caso dos organizadores terem conduzido toda aquela gente para um local onde uma tropa de Choque estava posicionada. Muita juquice isso.

O Toninho achando aquilo o maior barato. Eu já preocupado por estar ali com um guri de merda que nem ele. Por experiência sabia que logo o Choque iria avançar e empurrar toda aquela massa pra fora da rua, e eles sairiam correndo dali. E esse povo todo ainda parado, olhando a fumaceira lá adiante, ouvindo a barulheira, curiosa,

Buenas, voltar pelo mesmo caminho não erra uma boa, pois não conhecia a cidade e lá atrás devia estar vazio, poderia haver uns vagabundos assaltando por lá. Olhei para a frente e vi que havia um movimento de carros mais adiante. Bom, onde tem trânsito liberado deve ter táxi, e ainda eram 20 horas e 30 minutos aproximadamente. Foi no que eu decidi o que fazer para picar a mula dali e começou aquele povo todo a sair correndo da tal Ipiranga.

O Toninho Júnior se borrou todo e foi correr também. Eu disse "Não corre, caminha do meu lado, bem calmo". Estávamos perto de uma parada, e andamos bem rente as barras de ferro da mesma. Buenas, se os PMs aparecessem logo por ali, eu me fingiria de pai de família acuado e, de qualquer forma, ficar no meio da rua com uma multidão correndo é muito perigoso.

Cheguei até a rua movimentada e ficamos ali. Até eu conseguir um táxi, vi que os PM's desembocaram na rua à cavalo e fiquei preocupado. Meno male que a gurizada correu para a frente, Ipiranga adiante, e para trás, de volta pela João Pessoa. Se viessem por onde eu tinha saído, estaríamos enrascados.

Dois guris estavam bem perdidos ali, perguntando como chegar ao centro. O Toninho falou pra eles que não era dali e não sabia. Eu, preocupado em achar um táxi que parasse na chuva e naquela situação, não percebi direito o que se passava com os garotos. Mais tarde, quando ele me contou, fiquei preocupado com eles, mas já era tarde. Bom, naquele vuco-vuco embarcamos num táxi e fomos para o hotel, o motorista tendo de dar uma volta grande, pois as ruas estavam fechadas e a polícia caçando vândalos e depredadores que estavam fazendo a festa.

No outro dia voltamos pra Groenlândia. Antes de irmos embora, passamos no Hospital. A tia tinha mordido outro enfermeiro e jogado água na Monalisa. Inteiraça a velha, ainda dura mais uma década, com certeza.

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Era isso pessoal. Toda sexta, final de tarde, estarei aqui no RL com uma nova crônica. Abraço a todos.

Mais textos em:

http://charkycity.blogspot.com

(Não sei porque eu ainda coloco o link desse blog, eu perdi a senha e não atualizo ele há séculos. Até eu descobrir o motivo pelo qual continuo divulgando esse link, vou mantê-lo. Na dúvida, não ultrapasse, né)

Antônio Bacamarte
Enviado por Antônio Bacamarte em 20/06/2013
Reeditado em 30/06/2013
Código do texto: T4351126
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