O despertar da pátria amada

Ao nascer no Brasil criaram-se laços inseparáveis entre mim e a pátria que passei a amar, instintivamente, como um ventre do qual nasci. Sem que nenhuma gota de sangue nos ligasse, o Brasil tornaria-se parte de mim e eu parte dele, por toda a minha vida.

Contudo, derrotadamente, há algum tempo larguei o Brasil de mão. Assim, como quem se afasta de uma mãe, mesmo amando-a, por não mais conseguir conviver com seu jeito e costumes. Como quem desiste de resgatar um ser amado que se perdeu no meio do caminho.

Segui em frente minha caminhada predestinada a ser uma brasileira tentando ignorar tudo o que, ao longo deste trajeto, me fez sentir vontade de sentar, chorar e desistir. Fingindo não me afetar com as injustiças causadas por aquela que aprendi a chamar de minha pátria mãe gentil. Sofrendo por ter de admitir que algo havia saído errado no berço em que não escolhi nascer, mas do qual preferiria me orgulhar.

Foi duro ver meu país ser subjugado, ironizado e discriminado lá fora. Afinal, um país não é um simples traçado geográfico inserido no globo terrestre. O Brasil sou eu e todas as outras pessoas que atribuem vida a ele.A vergonha era de mim, o fiasco era eu, o fracasso era meu, a tristeza era minha.

Ver o monstro da corrupção crescendo e prostituindo a mãe que deveria ser justa e gentil sem que eu pudesse fazer nada, foi demais para mim. Perdi as forças de levantar a bandeira que estampa a riqueza que foi roubada, a beleza que foi desfigurada, o orgulho que foi rasgado.

Sem orgulho de ser brasileira me tornei uma filha apática e distante, vendo minha mãe se perder, dia a dia, pela televisão. Sentada sobre a dura estrutura de minha vida honesta vi o mal estuprando a minha pátria querida, enquanto gozava o êxtase diante de uma platéia entorpecida.

Vi policiais virando bandidos. Vi bandidos virando gente importante e rica. Vi a droga invadindo casas e aniquilando famílias. Vi pessoas sem casa morrendo nas ruas. Vi pobres perecendo nas filas, dentro dos hospitais. Vi crianças crescendo por todos os lados, sem educação. Vi a moral ser assassinada em bailes funk. Vi a cultura ser torturada em alto-falantes. Vi o mal fazendo o discurso em palanque. Vi o demônio sair das urnas para assumir o poder.

De ouvidos atentos, olhos inconformados, boca calada, minhas mãos atadas não puderam mais versar sobre a minha mãe estuprada. Até hoje.

Hoje eu volto a escrever sobre o Brasil. O Brasil que acordou do sono da inconsciência e grita, com milhares de vozes, por socorro. Hoje levanto a bandeira, há muito arriada no peito, e cubro de esperança as imagens distorcidas pelas lentes aliciadoras da televisão.

Hoje minhas mãos se soltam das amarras da impotência para, trêmulas de emoção, registrarem o momento em que minha pátria amada despertou, cheia de promessa de voltar a ser o que um dia sonhei que ela fosse.

Hoje eu me encho de coragem e peço àqueles que não compreendem, nem ouvem a voz que clama por R$ 0,20, que se olhem no espelho e, se não tiverem orelhas de burro, calculem o que poderia ter sido feito com cada centavo roubado por anos a fio dos cidadãos honestos e sofridos deste país.

Hoje eu quero invadir os portões do paraíso da corrupção e retomar, dos cofres dos demônios que lá vivem, a riqueza da minha rica pátria para gozar da herança que me é de direito desde que nela nasci.

Hoje eu quero redescobrir minha terra adorada e com orgulho poder dizer: "Entre outras mil, és tu Brasil, minha pátria amada!"

Léia Batista
Enviado por Léia Batista em 20/06/2013
Reeditado em 20/06/2013
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