A CAIXINHA MÁGICA DA VOVÓ

A vovó Rita Júlia tinha uma caixinha onde guardava de tudo. Se alguém precisasse de alguma coisa, qualquer coisa, a vovó ia ao quarto buscar sua caixinha, de onde tirava o que fosse preciso. A gente ficava curiando só pra ver o que tinha dentro da caixinha da vovó, mas ela fechava tão rápido que não dava pra ver nadinha de nada.

- Vovó, o que tem aí dentro dessa caixinha? – perguntava o netinho mais novo e o mais curioso.

A vovó Rita Júlia sorria e dizia assim, que tinha de um tudo e que um príncipe do Reino da Pedra Encantada havia lhe dado de presente.

Os olhinhos dos netinhos ficavam brilhando, cheinhos de curiosidade, imaginando coisas do mundo mágico das mil e uma noites e dos reinos encantados.

A vovó dizia que não podia mostrar o que tinha dentro da caixinha, pois senão podia quebrar o encantamento. Falava assim, bem baixinho, colocando o dedo na boca, pedindo segredo.

- A curiosidade matou o gato. – Fazia-se, então, breve silêncio.

Enquanto vovó Rita saía para o quarto para guardar a caixinha, os netinhos saiam fazendo algazarra, em desabalada carreira para brincar no quintal, alvoroçando as galinhas no terreiro. Afinal, ninguém queria acabar como o gato.

Quando a vovó Rita Júlia morreu, já com 102 anos, aqueles netinhos já estavam crescidos e pouco se lembravam da caixinha encantada. Os tempos de meninice, o Reino da Pedra Encantada e o mundo mágico das mil e uma noites tinham já sido esquecidos. O tragadouro dos afazeres e o vórtice do dia a dia nos já tinham roubado a imaginação e o encantamento.

Uma coisa, no entanto, era mais do que certa: a caixinha da vovó morreu também com ela. Nunca foi encontrada entre os seus pertences. Nunca vamos saber o que tinha dentro da caixinha da vovó Rita Júlia.

Mas tempos depois é que percebemos que a caixinha não importava muito. A vovó Rita Júlia é que era o nosso verdadeiro e precioso tesouro.