Vai às ruas? Ouça antes uma só voz.

Ei, você! Sim, você, que está nas ruas, nas avenidas e nas esquinas do meu país.
Que não tem quintal, não tem amigo sem ser virtual.
Que nunca leu Manoel Bandeira nem Mário de Andrade.
Nem sabe qual a razão de sua luta atual. Nem quem foi seu ancestral.
É falo com você, que não sabe o nome do vice-presidente.
Nem o de nenhum dos quase quarenta ministros do governo federal.
Não sabe o nome de outro governador a não ser o do seu Estado.
Não sabe o nome completo de seu vizinho.
Você que vive alienado e pensa que não está, afinal, diz: estou conectado.
Que confunde informação com sabedoria. Google com Filosofia.
Você que detesta sociologia e busca saídas sem ideologia.
Que vive sem defender teorias, que mergulha numa orgia de opinião.
Chamo sua atenção para que não cometa os mesmo erros da minha geração.
Lutamos bravamente por algo que não conhecíamos. Vivemos uma ilusão.
Fomos às ruas, levantamos bandeiras, pedimos Diretas Já.
Desejávamos o direito de votar. Mas não aprendemos antes a usar.
Derrubamos Collor, por amor ao Recife, a Olinda e à Nação.
Quem fez isso por nós foi preso, participava de quadrilha, era mais um anão.
Se você não confia em ninguém com mais de trinta, talvez até tenha razão.
Somos os culpados por essas coisas que você é contra. Que lhe incomoda.
Não sabemos ao certo o que criamos e você não sabe contra o quê está lutando.
Eis hoje o seu pior embate. Não saber o que debate. Está pronto para o abate.
Não se sente manipulado. Não se sente povo marcado. Pensa que é povo feliz.
Isso é o poeta pensador quem diz. Avisa a todos o que a vida prediz.
Mas já que você tem tanta coragem e muito pouca noção,
Arrisco a lhe dar alguns caminhos que possam lhe dar a razão.
Junte-se a Roger Waters e aumente o volume das guitarras, mas sem agressão.
Procure antes de qualquer coisa ter a sua própria motivação.
Lute primeiro contra você mesmo, descubra tudo por sua própria intuição.
Não se deixe levar por aqueles que lhe fazem viver sem razão.
Traga as idéias de Guy Debord para basear a sua manifestação.
Não se deixe entreter por liberdade sem antes ler a Sociedade do Espetáculo.
Saiba que a liberdade está em você e não nas ruas. Não na TV. Descubra-a em você.
Ganhamos a luta, não soubemos vencê-la. Não era a nossa liberdade. Dá prá ver?
Saímos da ditadura e passamos a votar nos sabidos que dela se aproveitaram.
Ganhamos não o livre-arbítrio, mas apenas uma liberalidade.
Deixamos uma grande dívida para você que hoje vai sair às ruas: a corrupção.
Mas como corrigir esse erro, esse mal, essa bruxaria maligna que nos assola.
Talvez dando a seta antes de mudar de direção. O pior mal e essa maldição.
Talvez parar de pensar que o sinal quebrado significa estar verde para você.
Talvez deixando de furar filas. Talvez incentivando a produção.
Talvez culpando menos os outros e assumindo nossos erros. E tentar de novo.
Talvez entendendo que o Estado somos nós e que o país é nosso. É a democracia.
Talvez quebrando velhas regras, mas sempre impondo limites. Ativar o respeito.
Talvez voltar a comer pizza com coca-cola ao invés de guaraná. Por nossa vontade.
Quem sabe se lutarmos contra essas pequenas coisas não consigamos êxitos.
Ganhar pequenas batalhas seguidas nos leva com certeza à grande vitória.
No final, se ainda tiver dúvidas se está no caminho certo ouça uma só voz.
A voz mansa que revolucionou a humanidade sem dar um grito sequer.
Só a voz Dele, Jesus de Nazareth, lhe dirá o que realmente você quer.






MARCELO RUSSELL
Enviado por MARCELO RUSSELL em 20/06/2013
Reeditado em 25/06/2013
Código do texto: T4350337
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