O PRAZER DE LER (Projeto Minhas Histórias)
O PRAZER DE LER
(Projeto Minhas Histórias)
Os primeiros anos da minha vida sem a presença física de minha mãe marcaram uma fase de introspecção que me levou a entrar de cabeça no mundo da leitura, elegendo o livro como meu melhor amigo, aquele que me levava a lugares longínquos e que me fazia mergulhar no oceano dos meus sentimentos, do meu ego.
Conheci, nessa época, Exupéry e me apaixonei pelo “Pequeno Príncipe” e acreditem, aos quase 12 anos, eu consegui ver o elefante na barriga da jibóia. Então caiu em minhas mãos o Hermann Hesse e me encantei com Sidartha. De Fernão Capelo Gaivota, Richard Bach me levou a Ilusões – As Aventuras de um Messias Indeciso e me ensinou como afastar uma nuvem da minha vida. Eu estava cada vez mais fascinada com aquele novo universo de profunda reflexão.
Continuei seguindo a trilha, sedenta em busca do autoconhecimento e nesse caminho solitário encontrei Gibran Khalil, Freud, Sartre e outros que não me deixavam parar. Eu havia descoberto um tesouro, bem ali, numa estante, no quarto onde eu dormia. Dá para imaginar a riqueza?
Grandes escritores brasileiros estavam sempre à minha espera na biblioteca do Colégio São Francisco. Que biblioteca maravilhosa! Acredito que não ficou um só título, sem que eu tivesse lido. Obrigada José de Alencar, Érico Veríssimo, Raquel de Queiroz, José Lins do Rego, Guimarães Rosa, Machado de Assis e todos os outros pela companhia, pelas lições e pelas viagens.
A necessidade de estar com os livros era tanta, que vez por outra escapava da aula e me refugiava lá, num cantinho bem escondido e me perdia na leitura até que era encontrada pela bondosa Irmã Nalita que sempre me convencia a retornar à sala de aula.
Em casa, minha grande incentivadora e companheira nas viagens literárias aguardava a minha chegada com mais um exemplar - Tia Nitinha de quem herdei esse prazer, me ensinou a declamar poesias antigas de autores desconhecidos como a Louca da Albânia. Eu caprichava na interpretação e me sentia no palco de um teatro.
Desde pequena, declamava Bilac, Casimiro de Abreu, Castro Alves e poetas do gênero. Um belo dia encontrei uma Antologia Poética de Vinícius de Moraes, por quem me apaixonei e sob sua forte influência enveredei pelo suave caminho da poesia mais livre, mais espontânea e a partir daí encontrei poemas maravilhosos de Cecília Meirelles, Drummond, Quintana, Bandeira e muitos outros mestres consagrados. Mais tarde, surgiu a minha segunda paixão, Fernando Pessoa e com ele alguns escritores estrangeiros como Neruda, Shakespeare e Florbela Espanca.
Bons Tempos! Grandes viagens! Eu não lia, devorava cada livro. Obras como Cem Anos de Solidão, (Garcia Marquez), A Ira dos Anjos (Sydney Sheldon), Ramsés (Christian Jacq) e algumas outras, de edições não menos volumosas, não me permitiam intervalos de leitura superiores ao tempo do consumo de um café.
No decorrer dos anos, dediquei-me também a conhecer a Literatura Espírita, grandes obras psicografadas por Chico Xavier, Zíbia Gaspareto e muitos outros.
A minha maior incentivadora, minha guru, fez sua grande viagem já velhinha, mas com a lucidez típica de quem nunca dispensou uma boa leitura.
Hoje a minha paixão persiste e embora ainda consiga ler duas obras ao mesmo tempo, outros compromissos não me permitem a assiduidade da leitura, mas deixo aqui o meu apelo, principalmente às crianças e aos jovens: encontrem bons livros e façam deles seus grandes amigos, pois as viagens que eles lhes oferecem são seguras e têm retorno garantido.
Fátima Almeida
20/06/13