Desconstrução

Desconstrução

Algo está estranho no ar

O homem que vive a sofrer

A mulher que não sabe sonhar

O sonho que não quer mais viver

O desejo que não quer saciar

A meretriz que dá por prazer

O gigolô que aprendeu a amar

O imortal que não sabe escrever

Algo está estranho no ar

O poeta que não conhece a dor

O palhaço que só sabe fazer chorar

O galã que já não é sedutor

Algo está estranho no ar

Mas o que será?

Mas o que será?

Algo está estranho no ar

O jornal que não fabrica notícia

O político que não quer roubar

O marido que só é carícias

A paixão que não tem loucuras

A virgem que não quer casar

O herói que não procura aventuras

O menino que já não quer se masturbar

Algo está estranho no ar

O rico que aprendeu a ceder

O povo que já sabe votar

O ateu que já consegue crer

Algo está estranho no ar

Mas o que será?

Mas o que será?

Algo está estranho no ar

O analfabeto que já sabe ler

O seresteiro que não quer cantar

O boêmio que deixou de beber

A miséria que está farta de comer

O sertão que já consegue plantar

O aluno que vai à escola aprender

O amante que desaprendeu a amar

Algo está estranho no ar

A polícia que já consegue proteger

O ar que já da para se respirar

A vida que já consegue entreter

Algo está estranho no ar

Mas o que será?

Mas o que será?

Mário Paternostro