A Viagem

Às 6 horas da manhã eu já me encontrava no aeroporto de Vitória. O vôo para São Paulo estava marcado para as 7:30 da manhã. O embarque começou na hora prevista. Sentei-me numa cadeira ao lado da janela, na direção da asa do avião. Lembrei-me de James Bond lutando contra um vilão, pendurado na asa, em pleno vôo. Somente nos filmes estas coisas são possíveis, mas quando estamos a bordo de um avião é inevitável nos lembrarmos de cenas como esta.

Ao meu lado sentou-se um homem de meia-idade, cabelos cuidadosamente pintados e óculos na ponta do nariz. Ele apertou imediatamente o cinto de segurança, abriu seu livro e em poucos minutos estava absorvido pela leitura. Algumas cadeiras à frente estava uma mulher, cujos sapatos azuis de bico fino me chamaram a atenção. Ela conversava em voz alta, como se estivesse sentada na cadeira de sua sala de estar, com o volume da televisão para lá da metade. Parecia um pouco nervosa, pois falava sem parar.

Eu já estava um pouco irritado com estes minutos que antecedem a decolagem, quando olhei para a poltrona atrás de mim. Uma menina de mais ou menos um ano de idade, sentada confortavelmente no colo de sua mãe, lançou-me um largo e doce sorriso. Isto me fez relaxar. Ainda atento àqueles acontecimentos peguei no sono e adormeci. Sonhei com as minhas brincadeiras de menino. Passava um bom tempo amarrado pela barriga a um galho de árvore. Sentia o vento no meu rosto e me imaginava uma águia, voando livre no céu.

Poucos minutos antes do avião aterrissar, despertei com um choro. Um pouco tonto pensei estar em mais um plantão no pronto-socorro pediátrico. A linda menina da poltrona traseira estava irritada, provavelmente com a variação de pressão na descida.

Ao meu lado o homem dormia e roncava profundamente. Só o solavanco do avião o fez despertar, já que não acordou com as chamadas da comissária de bordo. A mulher dos sapatos azuis de bico fino ainda tagarelava com a companheira de viagem.

Quando as rodas tocaram o chão eu respirei aliviado. Não que eu tenha medo de voar, mas confesso que eu acho estranho o homem brincar de ser pássaro, e prefiro sentir o chão debaixo dos meus pés.

Roberto Passos do Amaral Pereira
Enviado por Roberto Passos do Amaral Pereira em 02/04/2007
Reeditado em 02/04/2007
Código do texto: T434971