Bons tempos
Devia ser umas cinco horas da tarde, sábado, e lá íamos todas nos arrumar para ir no baile que ia ter na casa do Alexandre. Eu devia ter uns quinze anos, e paquerava um dos meninos da rua, e essa era a oportunidade de dançar com ele ao som de Please Don´t Go, do KC & The Sunshine Band, era tão bom.
Éramos no total de seis garotas, entre treze e dezessete anos, e sempre arrumávamos um bailinho no sábado, e durante a semana ficávamos todas na rua brincando de “queimada”, vôlei, mas o melhor era o “beijo, abraço, aperto de mão”, em que ficávamos sentadas em um banco de alvenaria junto com os meninos e uma ficava tampando os olhos daquela ou daquele que iria escolher, claro que combinávamos que quando chegasse o eleito, era só apertar um pouco mais forte a mão, lembro de uma vez que eu queria dar um beijo em um dos meninos e combinei com a Cida, e ela de brincadeira, escolheu outro, quase matei a desgramada.
Para os bailinhos, ficávamos a semana toda ensaiando os passos da dança, era muito divertido, lembro que ás vezes até levávamos o “disco” com a música, e eu não sei se era de sacanagem, mas imagine a cena, ficávamos no meio do salão “garagem”, uma do lado da outra , em posição para dançar e aí começava a música e parava, isto umas três vezes, que mico! Acho que eles faziam de propósito, mas não desistíamos e depois da nossa dança, vinha a música lenta, aí sim, corríamos para os cantos para aguardar ser chamada para dançar, e tinha esse menino que em toda festinha ele me chamava, nós dançávamos, e ele ia para um canto e eu para o outro, nunca conversámos nos bailinhos. Lembro que quando eu tinha uns dezoito ou dezenove anos, nos encontramos em uma festa de casamento, e ele veio de novo me chamar para dançar, só que no meio da música abaixou sua cabeça e nos beijamos, eu nem acreditei, pois depois de tanto tempo, enfim.
Ah, ia esquecendo que o melhor era o final do baile para eu, claro! Era quando vinha minha mãe e cinco irmãos menores me chamar ou melhor gritar no portão para eu ir embora, nem dava para eu fingir que não tinha escutado, ás vezes estava dançando música lenta, e tinha que parar e ir embora, por que já era “tarde”, dez horas, e meu pai iria brigar comigo. Como era difícil atravessar aquele salão e sair.
Bons tempos, fomos muito felizes pois tínhamos uns aos outros, brincávamos na rua até tarde, meninas e meninos, sem malicia, trocávamos bilhetinhos de amor, corríamos, foi muito bom.
Alguns casaram, outros separam-se, morreram, enfim, mas a nossa infância tivera uma base sólida , da melhor forma possível e fora inesquecível.