NOVOS "TEMPOS MODERNOS"

O cinema falado é o grande culpado da transformação. Quando ele surgiu dando som às imagens e voz aos atores, a história passou a ser contada por outra linguagem que ao mundo surpreendeu e a “sétima arte” eternizou. O dinamismo cinematográfico acompanha a modernidade e esta dele se serve para o revolucionário registro dos fatos. O predomínio da imagem supera o que a fala resume. A história se repete, sim. E contestá-la é o sofisma de quem se acha herói de um passado recente, embora como mero espectador do que passivamente assistiu. Um figurante em cena, sem vez e sem voz. Não assistiu a revolução, mas assistiu ao filme mal dirigido e falsamente narrado, cujo final já não interessa ser contado por quem antiquadamente “adentra” as atuais salas de projeção superadas pela tecnologia da TV e a cômoda possibilidade do DVD em domicílio. O cinema novo projeta outra realidade da vida e desconhece esse ultrapassado termo “adentrar”, que nem o parlamento democrático suporta.

Manifestação popular, a qualquer tempo, tem caráter duvidoso tanto quanto o suposto anseio que a motiva, como os que deflagraram o enfrentamento à ditadura militar, a luta pelas “diretas já”, o impeachment de Fernando Collor e as atuais manifestações. Deve-se, pois, discutir as razões, como também presumir suas consequências. Vivemos novos "tempos modernos", convivemos com outra realidade, somos personagens de um novo espetáculo na interminável comédia humana. O filme se passa numa nova versão, mas o enredo pouco difere.

Noel Rosa, aos 25 anos, celebrizou o Não tem tradução, cujo verso em negrito é tópico frasal no parágrafo introdutório desta crônica. O cinema, ainda longe da tela em “tecnicolor”, revolucionou a linguagem e mudou a história. Especialmente a história deste país, de que faz parte outro genial compositor, no início da carreira considerado o “novo Noel”. Chico Buarque militou naquela mobilização popular que lhe rendeu perseguição, singularidade da própria obra e fama. Hoje ele é personagem da história política e da música popular memorizadas em belos (ou tristes) “retratos em branco e preto”. Novas manifestações estão nas ruas. As cores verde e amarela não traduzem bem a euforia geral do futebol. Retratam mais a palidez da decepção política. A preta repressão policial se mistura à massa e, por ela ameaçada, recua. Nas cinzas do passado já não se vislumbra o horizonte em verde oliva, o que, em alguns casos, é uma desesperança.
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http://www.youtube.com/watch?v=qLInC5nEyRI

LordHermilioWerther
Enviado por LordHermilioWerther em 19/06/2013
Reeditado em 19/06/2013
Código do texto: T4349109
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