NASCIMENTO DE UMA NAÇÃO

Eu estava lá, senti o cheiro, o calor. O clima de revolta e de cidadania se mesclavam, parecia surreal, e pensei comigo mesmo: “Será que verei meu país se transformar em uma nação antes de eu morrer?” Com 52 anos e o panorama quase cristalizado de que o PT nunca mais sairia do poder, minhas esperanças já haviam desaparecido. Vi um mar de jovens, de mauricinhos, de coroas cansados como eu, mas um sentimento era comum, aquele que extravasa pelo semblante, que não precisa de palavras. Um sentimento digno e valioso, que só aparece quando já não se vê mais outra possibilidade a não ser o de expor o que se represou no peito por tanto tempo. BASTA!!! BASTA!!! BASTA de tanta incompetência, de falta de comprometimento, de alienação com o que tem real valor. Somos um país, um agregado de pessoas que remam sem coordenação, sem objetivo, sem esperança de que no fim da jornada teremos nossa recompensa. Ainda não somos uma NAÇÃO. Quem sabe a concepção ocorreu durante uma dessa manifestações e se isso é verdade, teremos meses de gestação, e essa só depende de nós. O espermatozóide foi a tarifa de ônibus e o óvulo a situação da educação, da saúde, da segurança. Faltava-nos a concepção e isso finalmente aconteceu. Podemos aborta-lo, afinal isso é um direito que toda mulher deveria ter e nós como povo também , porém essa talvez seja a única chance de nascermos com nação. Muitos enjôos deverão ocorrer, tais como os vândalos que arrebentaram lojas para roubar, picharam edifícios mas o que importa é manter o feto vivo, desenvolvendo-se dia a dia. Agora que a semente está gestando precisamos cuidar dela com todo o cuidado, pois esta é uma gestação de alto risco. Estamos rodeados de agentes que farão de tudo para não mudar a situação atual e abortar nosso arremedo de cidadania.

No alto da Av.Paulista, tudo correu na maior paz e tranqüilidade, ali, no útero do espigão paulistano nossa gestação corria tranqüila, ordenada e principalmente pacífica. Nos baixos do centro de São Paulo, onde se localiza a prefeitura, algumas bactérias e vírus, muito provavelmente injetados por quem não quer mudanças, radicalizaram e tentaram por nosso clamor no mesmo nível de uma peleja entre torcidas de futebol. Esses malignos parasitas não conseguirão calar um clamor que está preso em nossa garganta há tantos anos. Cada pessoa na Avenida Paulista era uma célula desse novo Brasil que nascerá em breve, com luta, com suor, mas principalmente com um senso de justiça perdido há muitos anos.

Na próxima levarei minhas filhas, pois elas também serão as responsáveis por manter esse filho que está prestes a nascer. O mais inusitado é que ELE nascerá nas ruas, nos braços do povo e não em berço esplendido como diz nosso hino. E dele retiro a frase mais linda: “Dos filhos desse solo és mãe gentil, pátria amada, BRASIL.