Eu estava lá



Em plena avenida Rio Branco, toda tomada, um mar de gente, jovens em sua maioria, uma multidão ordeira mas esbanjando energia, vontade e alguma revolta. Minha filha estava lá, entre aqueles mais de cem mil jovens manifestantes. Ela era uma manifestante que em uníssono cantava hinos de guerra, mas dentro de plena ordem. Presente, me arrepiava de orgulho daquela juventude, orgulho pela minha filha, orgulho de ver que ainda é possível mobilizações daquele porte.
 
Sou da geração de 1960, estudei na UFF nos anos de 1980. Sempre de cunho social, era membro do diretório acadêmico, lia e carregava jornais de esquerda, desafiava a sorte, e quantas foram as vezes que cheguei a UFF, no campus de matemática ou de engenharia, e estavam tomados por tanques de guerra. Intimidava um pouco, mas prosseguíamos em nossa posição social.
 
Veio o movimento das diretas e aos poucos, de lá para cá, o brilho da revolta juvenil da sociedade foi se perdendo. A UNE, que me perdoem os seus membros, mais parece uma caricatura do que foi um dia, parecem até mesmo pelegos do estado, em troca de favores, parecem ter cedido a tentação da participação no estado, ao invés da participação politica por um estado justo e socialmente inclusivo.
 
A juventude se acanhou com o passar dos anos, hoje sinto a energia pulsando em suas veias. Me preocupava muito, se em plena juventude, onde a revolta é algo mais marcante, nossa juventude parecia dopada ou alienada. Como esperar alguma mudança quando estes jovens envelhecessem naturalmente, e a energia da revolta diminui naturalmente.
 
Não sou a favor da baderna, mas mesmo por uma juventude desacostumada a reivindicar, a manifestação no Rio foi muito tranquila em sua quase totalidade. Uma revolta abafada ao longo do tempo vem a tona, e reforçada por um poder político que nunca demonstrou ao longo do tempo, em sua maioria, valores que dignificassem o Brasil e os brasileiros. Todo movimento reivindicatório, em especial, revestido de alguma revolta, leva a algum descontrole. O estado e seus representantes, em geral, sempre se lixaram para o povo, e é necessário algum exagero para que o estado pelo menos repense seus valores e seus princípios.
 
Jovens brasileiros, fico orgulhoso de vocês. Em plena multidão, vários foram os jovens que se referiam a mim como tio: Vem tio, pula com a gente, vamos mudar o país. Eu respondia que junto a eles eu estava mas para vovô do que para titio, mas estava ali. 

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 17/06/2013
Reeditado em 17/06/2013
Código do texto: T4346531
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