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Acabei de ler 'O Diário de Anne Frank' e sinto-me duplamente envergonhada. Primeiro, por somente agora ler na íntegra este documento. Poderia simplesmente desculpar-me não ter tido acesso antes, como de praxe, basta arranjar uma desculpa para colocar-se no papel de vítima. Não posso, não me é possível lançar mão desse recurso, depois de ler Anne Frank, não. Melhor assumir a ignorância que não me permitiu lê-lo até então.Segundo motivo: Perdoem-me, estou envergonhada! Envergonhada por fazer parte da raça humana! Isso é parte de minha pequenez, afinal Anne morreu afirmando: "Apesar de tudo ainda creio na bondade humana."   

Já li a respeito, assisti a documentários e filmes, nada no entanto, compara-se à leitura desta obra. Envergonhar-se da própria condição humana pode parecer covardia... Mas ser humana, pertencer à civilização que se diz em processo de evolução e ainda assim ser capaz de cometer os absurdos abomináveis do Holocausto, causa-me náuseas nesse momento... ter que assumir que o caráter de todo ser humano é suscetível a quaisquer atitudes, por mais desumanas que possam parecer... é assumir as mazelas de nossa humanidade. E, isso é ter que concordar sim, que enquanto seres humanos, somos capazes das piores injustiças e das maiores atrocidades contra o próprio ser humano... um pensamento covarde, me invade... seria melhor ter nascido uma alface, um inseto ou um animal qualquer, afinal os animais 'irracionais', até onde sei, lutam apenas pela sobrevivência, já os animais 'racionais'... 

Voltando ao primeiro motivo de meu envergonhamento, tenho me perguntado: o que fez a escola que não me contou a respeito de Anne Frank? A considerar, nada mais nada menos do que 25 anos de estudos sistemáticos, afora outros tantos de formação continuada e nunca me foi indicada esta bibliografia... Fico a questionar-me sobre a importância dos componentes curriculares e o que os educadores julgam como conteúdos imprescindíveis e necessários aos seus alunos. Temo que daqui a pouco meus ex-alunos possam fazer-me semelhante cobrança...

Se a escola não entende como importante a abordagem histórico-social da II Guerra Mundial, apesar de  haver mudado os rumos da humanidade e revelado o quão desumanos somos capazes de nos tornar, talvez ao menos, pudesse considerar os conflitos comuns aos adolescentes.
Anne Frank não morreu em vão, tampouco viveu em vão. Penso que a contribuição das elucubrações de Anne Frank podem dar significado à adolescência e auxiliar nossos jovens a  compreenderem a si mesmos e  perceberem por si próprio que a autodisciplina, a leitura e o estudo  conduzem à autonomia e à independência. Assim como através de sua dedicação e  empenho, serão capazes de construir seu saber, tanto quanto sua própria personalidade: "Os pais podem dar bons conselhos e indicar bons caminhos, mas a formação final do caráter de uma pessoa está em suas próprias mãos."

Enfim, Anne Frank não é uma lenda, não é um mito.
Anne é uma jovem que viveu e sentiu em toda a humanidade de seu ser, os conflitos pelos quais todo/a jovem vivencia no decorrer de seu desenvolvimento, com um porém, o contexto ao qual é submetida a sobreviver é o mais cruel e desumano que uma jovem adolescente pode experienciar. Anne em meio à tragédia, consegue manter-se lúcida, demonstrando uma capacidade ímpar de superação que aliada à sua força interior, são fundamentais na construção de sua própria coragem para transcender todos os limites que a razão humana pode compreender, assim sobrevive à duras custas às circunstâncias de que é vítima.

"...Acima de tudo, devo manter meu ar de confiança. Ninguém deve saber que meu coração e minha mente estão sempre em guerra um com o outro. Até agora a razão vem ganhando a batalha, mas será que minhas emoções não vão acabar dominando? Algumas vezes temo que sim, porém com mais frequência acabo esperando que sim!"
Eu li e chorei, reli e chorei... inúmeras vezes, repeti o feito.
Restou-me este registro por amor à Anne e expressão de minha indignação por todas as situações de injustiça  e incompreensões humanas... 


 


Gelci Agne
Enviado por Gelci Agne em 17/06/2013
Reeditado em 20/06/2013
Código do texto: T4346445
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