APENAS UM SORRISO ...
Havia uma certa aura de misteriosa saudade /solidão requentada talvez , em meio a silente madrugada .
João guardava no rosto traços do jovem que fora um dia , ainda que os anos tenham se passado apressadamente e o tempo cobrador implacável não tenha dado muitas oportunidades de se refazer dos desfazimentos cotidianos .
Ana Clara continuava em sua maturidade juvenil apesar dos cabelos bem mais claros , dos olhos buscando mais o infinito talvez dentro de si mesma .
Se conheceram na mais tenra juventude , se apaixonaram , trocaram juras e chegaram a pensar que como diz a música " tudo era pra sempre
sem saber que o pra sempre sempre acaba ".
E se amaram enamorados pelas madrugadas de estrelas e flores , de beijos e abraços/amassos / de tons / sons , risos e lágrimas .
Um dia não se lembravam ao certo o sempre se acabou , as luzes se apagaram e a festa findou nos bailes da vida .
Mas por incrível que pareça a vida dá rodopios e nas cirandas as lembranças revivem de maneira bem clara , nítida e real .
João olhou meio que de repente e avistou um olhar que conhece , bem apesar do tempo e em meio a uma quase multidão percebeu que logo ali diante dele estava Ana Clara , quase igual as suas lembranças a guardavam protegida na memória .
Mas ele apenas ficou parado por um momento , observou que quando ela sorria a noite parecia se estender em seus lábios , por entre seus dentes alvos como outrora expostos enfileirados .
Ela disse apenas um oi e se foi quase que deslizando sobre as penumbras da noite e sob as inúmeras estrelas .
João (re)viu Ana Clara sorrir e naquele momento a vida se calou , como que a sorrir dele , como a sorrir de todos nós que sentimos saudades .
Márcia Barcelos . 17/06/13