OCIOSIDADE
Gosto de livros. Gosto de ler livros. Só há duas maneiras de adquirirmos conhecimento: viajando ou lendo livros. Como sou um assalariado aposentado e o que ganho não dá para sustentar nem um sibite com fastio (viajar nem pensar), continuo lendo livros. E falando de livros – no geral todos são bons -, não posso deixar de citar um livro que considero fenomenal: a Bíblia. É fantástico. Primeiro, por ter demorado mais ou menos uns dois mil anos para ser concluído. Segundo, até hoje não se sabe quem o escreveu. Agora, um dado mais instigante: o único livro escrito da Bíblia que pode ser considerado contemporâneo, ou seja, escrito na época, foi o Apocalipse, textualizado por João, o teólogo. Aliás, é bom que se diga: um livro sem pé nem cabeça (João devia estar psicodélico). Vejam bem: se colocarmos cem doutores em teologia, de todas as crenças, para falar sobre o texto apocalíptico, com certeza teremos cem interpretações diferentes.
Como disse acima, a Bíblia é um livro excepcional. Reúne uma gama de contistas de imaginação fértil que vai desde o surreal, ao pornográfico, ao trágico, passando, porque não dizer, pelo patético. É um livro para todos os gostos. Recomendo sua leitura. Agora, um lembrete: não é saudável para menores de idade.
Bem, desculpem-me, se fugi um pouco daquilo que eu me propus a falar: a ociosidade. Pois bem, vamos ao tema. A ociosidade, grosso modo, é visto por muitos como preguiça, malandragem. Mas isso não é verdade. A ociosidade é salutar e para quem pode. Vejamos: se tenho condições de garantir a minha sobrevivência, gozar as benesses da vida sem fazer nenhum esforço, sem fazer nada (ociosidade), que mal há nisso?
José de Sousa Saramago, escritor português, Prêmio Nobel de Literatura, que nos deixou recentemente – falecido em 18 de junho de 2010 com 87 anos de idade -, em uma de suas entrevistas na mídia acerca da existência de Deus, ele focou com extrema lucidez o tema ociosidade.
Partindo do princípio que Deus é eterno, segundo o inesquecível dramaturgo, Deus antes de criar o universo passou muito tempo sem fazer nada e daí, sem saber por que e nem para quê, o inventou. Gastou seis dias para criá-lo - “sendo Deus, ficou estranho ter gasto todo esse tempo. Qualquer fada-madrinha com uma varinha de condão teria feito a mágica em milésimos de segundos” (grifo meu).
Continua o nobre escritor do livro Ensaio sobre a Cegueira: no sétimo dia Deus descansou e até hoje não fez mais nada. Genial. Ociosidade divina.
Bem, vou deixá-los por aqui, a preguiça está se apossando da minha carcaça. Vou mergulhar na rede e ouvir música africana, de raiz.