FAROESTE BRASIL
Ontem, ao fim da sessão de Faroeste Caboclo – enquanto muitos brasileiros acompanhavam pela televisão a insignificante partida entre Itália e México, pela pouco significante Copa das Confederações – pensei em um monte de coisa. Na sala escura, algumas pessoas ficaram para “ouvir” os créditos finais com a canção-tema. Um casal de pequenos namorados se beijava de pé, com a tela ao fundo, provavelmente apaixonados.
No filme, um Brasil que insiste em existir. Como se nossa vida fosse um metro de fotograma, onde não se nota, com a película em mãos, a diferença de um quadro para o outro – falo aqui da projeção de 24 quadros por segundo –, apesar da sala exibir uma cópia digital. Há um Brasil que se renova. E há outro que se repete. Este que se repete é o da quase-fome, do quase-analfabetismo, do racismo, do classismo cínico, da escravidão intelectual, da falta de leitos em hospitais. Mas há um que se renova: o Brasil do protesto juvenil. Protesto que pode ser o enfrentamento nas ruas contra este cruel estado de coisas, onde há brasileiros indo a estádios de futebol pagando caro por ingressos, sem reclamar, enquanto outros brasileiros apanham da polícia nas ruas. Brasileiros que mal conseguem se locomover para o trabalho ou escola, enquanto as autoridades falam da “preservação do direito de ir e vir”.
O protesto pode ser um cartaz em cartolina no meio da confusa multidão que tudo o que sabe é que vem sendo filmada, aviltada, vilipendiada, explorada. E ele pode ser um beijo de pé ao fim da projeção de Faroeste Caboclo, um filme violento sobre dias violentos. A caricatura que é a saga de João de Santo Cristo pode bem ser um retrato dos dias de hoje, de um Brasil que só faz sofrer.
(L.F., 17/06/2013)