Agora ó homem mal, és homem servil!
Há muito tempo eu não lia.
Há muito eu não escrevia.
Descobri recentemente que foi meu povo
A escravizar minha própria gente.
Descobri com espanto eu suponho.
Mais não há espanto nenhum
Nem confusão alguma.
Descobri que é real o que vejo nas ruas.
Descobri que desde que o mundo é mundo
(e já dizia Salomão na sua muita sabedoria)
Que não há nada de novo na terra.
Sim é o meu povo o culpado de meu povo
Ter sido escravizado, assim como
É meu povo que hoje mesmo o escraviza.
Há muito tempo que eu não escrevo.
Á muito tempo não sinto essa culpa,
Essa vontade de me confessar.
Omitir os erros da alma,
Não faz o coração parar de sangrar.
Por que meu povo? Por que mandaste
Teu próprio povo escravizado?
Por que os escravizas-te depois de estarem aqui?
Por que comprar sua própria liberdade
Para os outros escravizarem? Por que sonhar?
Por que desde os tempos que escravizaram
Os homens brancos, nos tempos que
Escravos tinham olhos azuis e pele clara.
Desde lá somos reféns! Reféns de nossa
Própria vaidade. Não tínhamos identidade.
Agora ó homem mal, és homem servil!
Que a outros obriga que os sirvam.
Que determina contra seu povo a sua lei.
Que vai enviado a lutar contra os teus compatriotas.
Que humilha o teu irmão na sua diferente crença.
Agora ó homem mal, és homem servil!
Que é a ditadura dos oprimidos.
Que luta não pela justiça, mais pelo
Teu direito de exceder o direito alheio.
Que determina o que há de ser para as outras
Classe que tu não és, mais quer ser.
Agora ó homem mal, és homem servil!
Agora eis a herança de teus filhos,
Tuas magoas e teus complexos.
Tua amargura e tua humilhação,
Teu orgulho sem compaixão.
Teus medos e tua solidão!
Teus sonhos são servidão!
Agora ó homem mal, és homem servil!
Agora ó homem mal, és homem servil!
Que luta bravamente contra teu inimigo.
Que o grito dos opressores carrega contigo.
Que leva nas mãos a arma da vingança,
Contra os teus opressores.
Põe-te diante dele. Mata o teu opressor.
Agora que sabes que ele não é apenas
Branco como supunha. Mais também Preto
Como tua própria cor. Como a noite dentro de ti.
Agora que sabes que ele é pardo, como branco
Como preto, como índio.
Agora mata aquele que tanto te fez mal.
Agora ó homem mal, és homem servil.
Agora que sabes, cura a tua alma!
Agora que sabes, liberta o teu espírito!
Agora que sabes, mata o teu agressor!
Eis ai diante de ti, tua arma com tua única bala.
Eis ai diante de ti, teu opressor.
Eis ai diante de ti, um espelho.
Eis ai diante de ti.