AS QUADRILHAS JUNINAS
(*) Edimar Luz
Inicialmente, é importante ressaltar que no interior do Brasil, a quadrilha é a dança típica das festas juninas comemorativas dos dias de São João e São Pedro. Conta a tradição que, a princípio, a quadrilha era uma dança de salão, de origem francesa, alegre e movimentada, em que os pares se dispõem em formação quadrada, ou em algumas
variantes, em fileiras opostas, terminando com um galope ou outra dança animada.
Como sabemos, a quadrilha chegou ao Brasil por intermédio dos portugueses, no começo do século XIX. Aliás, diga-se de passagem, nós brasileiros, herdamos as festas juninas dos brancos portugueses. Este tipo de dança já era bastante popular no Rio de Janeiro, na época da regência. É bem verdade que ela ganhou numerosas variantes pelo país afora, talvez em virtude de sua rápida expansão, influenciando diretamente as danças em fileiras opostas, por exemplo.
É verdade que a forma de quadrilha mais praticada no Brasil é, sem sombra de dúvida, a conhecida quadrilha do tipo caipira, surgida no interior de São Paulo, e na qual todos os participantes se caracterizam invariavelmente como personagens caipiras, de trajes matutos, com roupas típicas remendadas, saias rodadas e chapéus de palha de carnaúba, como ocorre aqui em nossa região picoense. Em movimentos marcados por um eloqüente mestre-de-cerimônia, popularmente chamado também de gritador ou puxador da dança da quadrilha, o qual gritando em francês: tutavâ,anarriê, anima a festa que termina em geral com a divertida cerimônia de um casamento matuto.
É exatamente aqui neste contexto, que se enquadra a forma de quadrilha apresentada em nossa região, e que, apesar de a cada ano ela se modificar um pouco, ainda se pode observar, durante os alegres festejos juninos, algumas apresentações em algumas localidades da região.
Na verdade, é aqui na região Nordeste onde as quadrilhas juninas são mais praticadas e mais festejadas, por isso de sucesso nacional e de animação ímpar.
Vale lembrar também, que na casa onde se realizava a quadrilha junina, aqui no meu bairro, quase sempre se repetia a cada ano daquela década de 70, por ocasião das festas juninas. Isso ocorreu durante certo tempo em nossa comunidade. Na verdade, muitas foram as danças de quadrilhas juninas que tive a oportunidade de assistir, constatando in loco a beleza e a importância dessas tradicionais festas. Não se pode negar que até mesmo os ensaios que ocorriam nas noites anteriores à noite de São João, já eram bastante divertidos. Essas quadrilhas do lugar eram realmente muito animadas, aonde todos, ou quase todos, os
habitantes da comunidade iam curtir um animado e bonito espetáculo junino, no arraial, vendo os seus participantes, exímios dançadores com trajes matutos e em constante harmonia e sincronização na dança da quadrilha, dançarem alegremente, proporcionando alegria também àqueles que assistiam à apresentação daquela tradicional festa do período junino, ao som do tradicional forró pé-de-serra.
Podemos dizer que o cenário para a realização da quadrilha era montado e ornamentado de forma um tanto quanto simples, com palhas verdes de coqueiros, papéis coloridos, cordas atreladas a estacas fincadas de acordo com a configuração do arraial, com o objetivo principal de separar o público do grupo de participantes/integrantes da dança da quadrilha.
Como já foi destacado, era bastante animada a quadrilha: o arraial, a dança da quadrilha em si, a cerimônia do casamento matuto, a dança final, onde o cavalheiro que sobrasse e ficasse por último, ou seja, aquele não escolhido por nenhuma dama para dançar, teria mesmo que dançar com uma vassoura rústica e enfeitada, a qual ficava exposta em posição vertical no centro da roda de dança; isso era por demais engraçado. A alegria era contagiante e condizente com aquele momento de extrema animação e efusão. À medida que se ia desencadeando ou processando a dança, ficava a expectativa: quem iria ficar para dançar com a vassoura?
Após o término da dança da quadrilha, quase sempre havia uma festa dançante na sala de visitas da casa cujo terreiro servira de palco para a apresentação da tradicional quadrilha junina.
Cumpre lembrar também que o som acompanhante, assim como nos ensaios, era de radiolas/toca-discos comuns que tocavam discos fonográficos de vinil com músicas de forró; ou, às vezes, havia um sanfoneiro contratado para animar a festa da quadrilha. Aliás, essa é uma festa popular com ritmo de forró, forró este trazido à tona pelo sanfoneiro tocando seu acordeão ou harmônica, que é mais comumente denominada de sanfona, instrumento musical composto de inúmeras teclas metálicas que são postas com habilidade em vibração por um animado e agradável fole.
Obs. Do meu livro Memórias do Tempo. Direitos redservados.
(*) Edimar Luz, é escritor/cronista, poeta, memorialista, articulista, compositor, professor e sociólogo, formado em Recife – PE.
Picos - PI, junho de 1996.