Palmas pra Maluco Dançar
A ditadura midiática se nutre do “sequestro do conhecimento”, título do livro de Vicente Romano "La Violencia Mediática. El Secuestro del Conocimiento". Isto é, o conhecimento real do fato fica de posse dos organismos comprometidos com a veiculação internacional das notícias, objetivando a formação de uma opinião que seja do interesse das grandes potências do Ocidente. Sendo inteiramente distorcidas, via de regra, as informações que chegam ao conhecimento de todos.
A mídia constrói o santo e também o demônio. Bush não poderia ter demonizado determinados países, de orientação política contrária aos interesses americanos, se não pudesse contar com o auxílio de uma ampla rede midiática internacional para a sua propaganda. Rede integrada, dentre outras, pela CNN, BBC, Fox News, Univision, Voz da América, France 24 e agora até a Al-Jazeera, do Catar, recentemente cooptada pelo sistema ocidental de informação.
Isto é um fato a que não podemos deixar de estar atentos. Se pretendemos fazer um uso melhor do que aprendemos nos bancos escolares.
Os Estados Unidos valeram-se da alegação de enriquecimento de urânio pelo Iraque para invadir o país, contrariando resoluções da ONU (Organização das Nações Unidas), e destituir o seu líder Saddam Hussein. Até a não confirmação da suposição feita pelos americanos, a notícia do enriquecimento de urânio pelo Iraque para fins militares deve ter convencido a muitos na América do Norte, na Europa, Ásia, América Latina e o Caribe, etc. E depois, as notícias de confirmação da farsa (não houve enriquecimento algum de urânio para fins bélicos no Iraque), embora tenham sido também veiculadas, não tiveram intencionalmente a mesma intensidade de propagação. Tendo sido Saddam Hussein àquela altura identificado com um déspota, tirano, assassino de milhares de iraquianos, o próprio demônio, não importando que bem antes disso ele pudesse se achar incluído entre os aliados dos Estados Unidos.
Além disso, se não quisermos acreditar, podemos pelo menos desconfiar de que a grande potência militar do Norte encontre respaldo nesse tipo de propaganda para tomar decisões muitas vezes de caráter bélico. Que envolvam a sabotagem e deposição de governos, a ingerência em assuntos internos de outros países ou mesmo a invasão deles, com objetivos jamais declarados de obtenção a baixo custo ou a custo zero de suas riquezas naturais, dentre elas o petróleo. Nunca estando descartada a pretensão de anexação de territórios.
Devem-se também ao obstinado trabalho realizado pela mídia convencional, a serviço do poder econômico ocidental, os achincalhes e as referências pejorativas, às vezes até desairosas, com que nos brindam muitos jornalistas brasileiros a respeito de Cuba e da Venezuela, como da Argentina, de Cristina Kirchner, e da Bolívia, de Evo Morales.
Procuram desqualificar a medicina que se faz em Cuba, sem que sejamos devidamente informados sobre a eficácia do trabalho dos médicos cubanos em seu país ou em países vizinhos.
Tecem robustas críticas ao regime bolivariano implantado na Venezuela sem reconhecerem as melhores condições de vida do povo venezuelano, o expressivo contingente de adultos alfabetizados em pouco mais de dois anos no país – aliás, através do método cubando "Yo sí puedo" –, o aumento do salário-mínimo e outras conquistas obtidas após a eleição de Hugo Chávez em 1998.
A que podemos creditar esse tipo de desinformação, a não ser à tentativa de confundir as pessoas ou, pior que isso, levá-las a um pré-julgamento negativo a respeito de países que lutam por maior independência ou um distanciamento maior da influência ou ingerência americanas?
Estamos conscientes de que Cuba, Venezuela, Argentina e Bolívia não precisam que uns poucos brasileiros acorram em sua defesa com palavras como as nossas. Existem certamente cubanos, venezuelanos, argentinos e bolivianos muito mais preparados e motivados que nós pra isso. A questão não é bem essa.
O que devia interessar a nós brasileiros é não sermos enganados por notícias ou informações destinadas a distorcer a realidade dos fatos, a ponto de ficarmos, valendo-nos do uso de uma linguagem bem informal, “batendo palma pra maluco dançar”.
Rio, 07/06/2013