APRENDENDO COM OS ANCESTRAIS.
Acabo de receber a cópia de um documento histórico!
Ela me foi enviada pelo notável poeta e jovem nonagenário, Ayres Koerig, companheiro de letras.
Vem datada do ano da Graça de 1833, ocasião em que o nobre colega ainda estava nos cueiros, evidentemente.
Além da lição que nos dá, brinda-nos com as delícias do português arcaico, pleno de expressões floridas, aliviando a contundência da palavra crua.
Sua autoria é atribuída a Manoel Fernandes dos Santos. Insigne Juiz de Direito da província de Vila do Porto da Folha, em Sergipe.
Publicar "ipsis litteris" a matéria, seria pouco para o que ocupou a minha mente, após lê-la. Então, vou reescrevê-la, entremeando os termos originais com algumas observações.
Primeiramente, para bem situar meus 3 ou 4 leitores, devo dizer que a sentença condenava um réu pelo crime de estupro, envolvendo um tal de "cabra" Manoel Duda.
Vamos em frente!
"No dia 11 do mês de N.S Sant'Ana, quando a mulher do Xico Bento ia para a fonte, já perto dela, o supracitado cabra, que estava em uma moita de mato, sahiu della de supetão e fez proposta a dita mulher, por quem queria para cousa que não se pode trazer a lume (que diferença de hoje, hein ?) e como ela se recuzasse (figurinha difícil) , o dito cabra abrafalou-se ( vou ter que consultar um dicionário !) della , deitou-a no chão, deixando as encomendas della de fora (ela estava levando um sacola de compras) e ao Deus dará. Elle não conseguiu matrimônio (ué, o cara tava a fim de que ?) porque ella gritou e veio em amparo della Nocreto Correia ( você conhece algum Nocreto ?) e Norberto Barbosa, que prenderam o cujo em flagrante. Dizem as leises ( novo plural de lei) que duas testemunhas que assistam naufrágio ( só se o cabra estivesse a bordo de alguma malfadada embarcação !) do sucesso faz prova (?)
E a decisão:
CONSIDERO
Que o cabra Manoel Duda agrediu a mulher do Xico Bento para conxambrar ( hoje o nome é outro) com ella e e fazer chumbregâncias (pelo tamanho da palavra, deve ser coisa feia !) , coisas que só o marido della competia conxambrar, porque casados pelo regime da Santa Igreja Cathólica Romana;
Que o cabra Manoel Duda é um suplicante ( mas, então, o cara rogou antes?) deboxado que nunca soube respeitar as famílias de suas vizinhas, tanto que quiz também fazer conxambranas ( o cara não podia ver um par de pernas !) com a Quitéria e Clarinha, moças donzelas ( e, pelo visto, iam continuar assim, dada a preferência do cabra);
Que Manoel Duda é um sujeito perigoso e que se não tiver alguma cousa que atenue a perigança dele ( acho que a palavra é outra !) , amanhan está metendo medo até nos homens ( medo e outras coisas !);
CONDENO
O cabra Manoel Duda, pelo malifício que fez à mulher do Xico Bento, a ser
CAPADO
( ai, que frio na barriga !) capadura que deverá ser feita a MACETE (Cacete! Será que não podiam usar uma miniguilhotina!)
A execução desta peça( tava passando em que teatro ?) deverá ser feita na cadeia desta Villa. Nomeio carrasco o carcereiro (hoje são sinônimos)
Cumpra-se e apregue-se editais nos lugares públicos.
Amigos, considerando a atual conjuntura, estou disposto a enviar cópia ao Ministro Joaquim Barbosa!
(não deixe de ler o collega e bacharell em Direito, Roberto Rego)