MANUELA
Hoje, sentado na areia da praia, olhando o infinito de um mar azul, me vi envolto em pensamentos bem distantes da minha realidade. Eu quase não percebi que havia voltado no tempo, que havia regredido mais de trinta anos, que estava vivenciando aquele tempo como se fosse agora, pensando em uma pessoa que deixou uma saudade danada, que marcou a minha vida.
A música era embalada, as luzes me ofuscavam, jovens se abraçavam, sorriam, bebiam, dançavam. Eu apenas olhava aquela cena que me deixava feliz, apesar de estar sozinho, mas estava feliz sim, pois ali perto tinha uma garota que eu admirava, que gostava dela e esperava apenas a sua aproximação, uma oportunidade para cortejá-la, mas... cadê a coragem? Não conseguia tomar essa coragem para conquistá-la e notava que ela tinha a mesma intenção, talvez me desejasse também, éramos dois covardes, um esperando pelo outro. A festa acabou e tomamos nossos rumos, nos olhamos discretamente, ensaiamos um leve sorriso e foi só isso, nada mais aconteceu. Seu nome era Manuela, jamas esqueci, mesmo com o tempo nos distanciando. Ficou somente a saudade, a lembrança, aquele desejo incontido que me perturbava.
Agora, olhando o mar, com o olhar de quem está triste por não ter conseguido vencer o medo, eu pensei em Manuela, pensei nela ali pertinho de mim e até sentindo o calor do seu corpo, as carícias de suas mãos em meu rosto. Imaginei beijar aqueles lábios rosados, aquela boca que poderia ser só minha mas que o destino e a minha covardia me impediram de ter Manuela, de ter dado vazão aos meus sentimentos. Ficaram apenas as lembranças de Manuela.