"Recordações de uma menina"-Capítulo 7
SÉRIE RECORDAÇÕES DE UMA MENINA
CAPÍTULO VII
Década de 30
Bairro Ipanema
Fez-se um grande hiato neste relato, mas nada que não possa ser compensado. As idéias continuam as mesmas, deixar registrados fatos que já se perderam na poeira dos anos, mas sempre queridos e revividos por mim, como se os quisesse reter e fazer retrocede-los para não perder as nuvens da memória no caminhar dessa minha jornada atual. Foi um período dos mais maravilhosos esse que estou relatando agora, pois o que mais me marcou, quero deixar revivido, com a nítida sensação do dever cumprido, daquilo que me propus escrever.
Quando se tem uma determinação em relatar fragmentos de vida infantil, por ser de pequena monta pela dificuldade, talvez, de reter fatos que já se foram há muito tempo, cumpre-me tentar a maior associação e correlação com os mesmos. Como já disse, foi a época áurea de minha meninice que se situava naquela época.
Todos os domingos era sagrado: na parte do final da tarde nos reunirmos na casa de Tia Zinha que se situava na rua Barão de Jaguaribe, 300, atualmente local de um edifício de apartamentos, onde a Yolanda Houaiss ainda reside com a família dela. Local de extremas recordações, pois me ficaram gravados e sobressaídos tudo que acontecera. Aos domingos ficavam na casa, reunidos em três grupos, como em qualquer lugar anterior: as mulheres no salão enorme para poder cabê-las todas para por, festivamente, as conversas em dia, como se não as tivessem sempre atualizadas. Na sala de visitas, numa poltrona cativa ficava Tio Seth, rodeado dos amigos de então para aquelas conversas intermináveis dos assuntos tão deles e tão mágicos para mim: arte em todos seus detalhados aspectos, literatura, política e talvez as estórias picantes que todos os homens sempre têm para conversar.
As crianças, como sempre aos trambolhões, nas correrias e brincadeiras. Lá mamãe não me proibia ficar com os meninos, pois Tia Zinha dizia: " Alba, deixa essa menina se distrair, brincar com todos senão vai ficar pelos cantos, sozinha." Vai, menina, aproveitar sua infância, porque só temos uma mesmo, vai." E, palavras de Tia Zinha eram ordem sacramentada, ninguém discutia nem se negava em atendê-la, pois era ordem mesmo e fim de papo.Deixa-me refrescar a memória para voltar aos meus tempos queridos , da minha infância adorada que tanto me fez feliz e que me dá saudades.
A casa da Tia Zinha era uma construção mais antiga, com 3 pavimentos dando o ar imponente naquele trecho da Rua Barão de Jaguaribe. A célebre Casa Cinza de número 300.Em baixo tinha o salão, 1 sala de estar e uma saletinha. Era no salão que ficava a mesa enorme rodeada de muitas cadeiras: era a sala de jantar conhecida, imponente que ao redor se atropelavam aos domingos as célebres visitas costumeiras. Dessa sala tenho imensas recordações, pois era na segunda leva que as crianças podiam se aproximar, tal o alarido e as bagunças feitas que, mesmo admoestadas essas crianças não se continham pela fome depois das brincadeiras e corriam céleres para as guloseimas da Tia Zinha que, feliz, ficava observando a bagunça toda.
Não se podia pedir bis mais de uma vez, porque minha mãe, comigo e irmãos, ela dava aquela olhada com os olhos muito arregalados de censura e o não tinha que ser dado, senão em casa as ladainhas começavam. Meu pai se divertia muito com tudo isso, pois talvez lembrasse da infância dele lá na Cidade de São Benedito, Serra da Ibiapaba no interior do Ceará, onde morou com a família dele até já taludo, pois em dado momento lá a mãe dele, minha avó, deixou- à guarda de um tio padre que o acolheu e cuidou de seus estudos, enviando para a capital para ser gente, alicerce que o fez ser o que sempre foi: um homem encantadoramente culto, poliglota e deslanchar para sua vida futura cheia de sucesso e felicidade. Foi dar com os costados em Londres e lá realizou-se completamente, num misto de toda oportunidade e soube aproveitá-la em toda sua extensão.
Mas essa é outra parte da estória, que não é a continuação da minha infância querida.
Myriam Peres