Os bancos e o desrespeito com os idosos (um relato)
Por Herick Limoni*
Os idosos sempre foram tratados como clientes “especiais” pelos bancos brasileiros. Esse tratamento “diferenciado” se deve por alguns motivos, mas eu considero dois como os principais: 1) os proventos mensais da aposentadoria e 2) a facilidade de “empurrar”, literalmente, alguns produtos bancários a esses – na maioria das vezes – incautos cidadãos.
Os proventos da aposentadoria, pagos de maneira quase que sagrada, são um prato cheio para as instituições bancárias que, com os tais empréstimos consignados conseguem, sem maiores dificuldades, emprestar boas quantias em dinheiro, a juros “mais baixos”, sem o temido risco da inadimplência.
Com relação à oferta de produtos aos idosos a situação é muito, mas muito mais preocupante, chegando mesmo a ser uma covardia. No último dia 12 de junho de 2013, dirigi-me a uma agência do banco Itáu a fim de resolver algumas questões. Visito a referida agência com certa frequência e, em todas as vezes, pude notar o total desrespeito dessa instituição com o pessoal da, eufemisticamente falando, melhor idade. O desrespeito começa com a fila do famigerado “caixa preferencial”, que de preferencial só tem o nome, já que todas as vezes que lá estive o atendimento na citada fila demorava muito mais do que a fila dos não-preferenciais, haja vista que, para os idosos, só havia um caixa para atender. Todos sabemos que, com a idade, muito de nossos reflexos são perdidos, motivo pelo qual essas pessoas têm maior dificuldade para lidar com essas tecnologias, o que só faz aumentar o tempo de espera dos que estão na fila.
Mas o pior ainda estava por vir. Quando fui chamado para atendimento, fiquei ao caixa ao lado do que atendia aos idosos, e pude presenciar o “bote” da funcionária do caixa em um senhor de aproximadamente 75 anos de idade. Tratava-se de pessoa bastante simples, daquelas que carregam a senha em um papel colado junto ao cartão bancário para não se esquecer. Pelo que pude perceber, o senhor havia ido ao banco pagar uma conta e, tão logo o fizera, fora abordado pela caixa, que lhe ofereceu um empréstimo, sendo este recusado. Vendo a oportunidade de ganhar uns pontos com a gerência e, quem sabe, uns trocados a mais no salário – acredito que eles tenham um percentual nas vendas, mas não tenho certeza – a referida funcionária não perdeu tempo e foi logo oferecendo um seguro residencial contra incêndio, roubo, fenômenos da natureza e aquele monte de coisas que sabemos que vêm embutidos nesses seguros. O idoso, com toda a simplicidade que lhe era peculiar, respondeu à funcionária que já pagava um seguro, e por isso não tinha a intenção de fazê-lo, imaginando tratar-se do mesmo produto. A funcionária logou tratou de desfazer o mau entendido e, consultando a conta do senhor, verificou que o seguro que o mesmo já pagava era referente a um seguro contra roubo, furto ou perda do cartão bancário. Diante do esclarecimento e da insistência da funcionária, o senhor acabou aceitando fazer o referido seguro por três parcelas de vinte e poucos reais.
Confesso que saí da agência indignado com o modo como aquele senhor fora abordado, e pensei que ele, pelo seu jeito simples de ser, depois de longos anos de labuta, deveria estar aposentado com um salário mínimo, como ocorre com a maioria dos brasileiros. Talvez nem casa própria tivesse, o que contraindicaria a contratação de um produto dessa natureza. Fiquei me perguntando se aquele senhor não tinha um filho, um neto, alguém que pudesse acompanhá-lo nessas ocasiões para não deixar que se tornasse presa fácil da agência bancária e sua funcionária. Fiquei me perguntando se isso não seria um tipo de estelionato, roubo ou outra coisa qualquer, e porque o Ministério Público, que é tão atuante, não fiscaliza esse tipo de coisa. Fiquei estupefato com mais essa covardia que é cometida, cotidianamente, contra os idosos. Enfim, saí de lá triste e descrente com o futuro do nosso país, pois as pessoas estão se preocupando muito mais com o TER do que com o SER, tudo isso em razão do modelo capitalista que há anos vem sendo implantado no Brasil.
E, para aqueles que me deram o prazer de compartilhar minhas ideias, deixo uma pergunta para reflexão: como nos tornaremos um país de primeiro mundo se não respeitamos aqueles que construíram e constroem as bases da nossa história?
*Bacharel e Mestre em Administração de Empresas