MEUS DOCUMENTOS / MEUS VÍDEOS
MEUS DOCUMENTOS/MEUS VÍDEOS
Ontem à noite fui dormir mais cedo. A poluição geral em torno da Copa e das vuvuzelas do mundo saturaram meus miolos. Numa tentativa de mudar o disco apelei para a televisão.
Como era domingo, fui para a Globo e caí no famigerado “Domingão do Faustão”, programa que vem se equilibrando no IBOPE, guindado pela repetição, pelo apresentador com cara de imbecil e pelos quadros tão imbecis quanto ele, a produção, os patrocinadores e os anunciantes.
Sim! Pois um lixo midiático desses, que vem se agüentando há anos com o que há de mais sem sentido na TV, continua tendo patrocínios que o mantém na proa da formação cultural do país.
O apresentador, há anos, inicia, conduz e termina o programa usando, sempre, as mesmas palavras, as mesmas frases e os mesmos chavões, demonstrando a parvulez vocabular de que é dotado. Coisas anacrônicas, assim como essas, acontecem e se sustentam não se sabendo, nem como e nem o por que.
Parafraseando o Mago Alquimista podemos dizer que, “entre os interesses e a produção midiática há mais mistérios do que pode supor a nossa vã filosofia”.
Infelizmente, as “autoridades responsáveis” não se apercebem de que a educação assistemática é muito mais poderosa e eficiente do que aquela regida e controlada pelo “sistema”.
Enquanto essa percepção oficial não ocorre, os espertos “formadores da opinião pública” vão introjetando no desavisado telespectador lixos desse tipo que se enquadram, perfeitamente, nos escaninhos da “contracultura”.
Ontem, sábado, fui cair no SBT. Lá, estava o Raul Gil, com aquela voz ímpar, berrando aos quatro ventos no maior Português errado da história. A sorridente celebridade manda, solenemente, às favas, as mais elementares regras da Gramática.
Gênero, número e grau, são suas vítimas das mais contundentes. Concordância e Regência, meus amigos, nem passam por perto do apresentador que também assume seu lado meio palhaço... E se torce, contorce, pula, e dança no maior desvario federal.
Começando a ficar irritado, mudei para a “Bandeirantes.” Não deu outra! Propaganda das “Casas Bahia”, “Ricardo Não Sei das Quantas”, “Ponto Frio”, “Novo Fiat Uno” e, para acabar de detonar, aquele cara “chatérrimo” que fica em quase todos os canais, empurrando no telespectador, a tal câmara multiuso “Tek-Pix”! Mas que saco! Gritou meu espírito.
Dei mais uma dedada no controle remoto e caí numa TV católica. Lá, foi de matar! Um tal de padre Jonas, com um terço na mão, se esvaía em salamaleques para explicar as enormes diferenças entre os afazeres das pessoas que iam para o céu e das que iam para o purgatório... No meio da falação, pedia “auxílio” para os necessitados do Abrigo de São Medaomeu e para as avozinhas desamparadas do Asilo de Santo Ocofre!
No canal do lado, vociferava, histérico, o tal de Malafaia, sacolejando a Bíblia. Possesso da vida ameaçava todo mundo que estivesse aceitando a idéia do casamento entre homossexuais. Nem reparou que de tanto brandir “O Livro da Lei”, as páginas estavam se despregando da encadernação e se espalhando pelo chão...
“Ô loco, meu!” Quase dei um murro no quengo da TV! Teimoso, que sou, continuei no meu périplo.
Deixei o polegar livre para agir, no teclado do controle remoto, e fiquei observando o que acontecia na telinha de 32”, 42LH30FR, Full HD, do meu televisor LCD, dotado de portas HDMI, USB, AV IN, COMPONENT IN, RS232, RGB IN, AUDIO IN, AV IN, AV OUT, ANTENNA IN, que comprei numa liquidação, com IPI reduzido, em doze prestações mensais e iguais.
Meio puto da vida, voltei para a Globo. Lá não deu para ficar, era demais para a minha paciência que nunca foi igual a do tal de Jó. Era impossível ficar olhando a repetição secular dos gestos, caras e bocas do Zeca Camargo, com a companheira de cena, a linda Patrícia Poeta. Em todos os programas do “Fantástico” é a mesma postura dos dois, sem tirar nem por um gestinho, sequer.
Recitam o texto da hora. A cada frase, um olha para a cara do outro, enquanto o outro faz assentimento balançando a cabeça, olhando para a cara do um. Em seguida, o outro recita nova frase, enquanto o um olha para a cara do outro, fazendo assentimento com a cabeça, olhando, de novo para a câmera.
Entre os atos dessa pantomima fica o Zeca Camargo trocando de posição as mãos e os braços. Ora põe uma das mãos na cintura, ora enfia os polegares nos bolsos da calça. Quando não está em nenhuma dessas duas posturas “obrigatórias pela produção do programa”, fica segurando o dedo mindinho, com as mãos à altura do umbigo.
Esse teatro intermitente dura por todo o programa... Ora! Valha-me Deus! Tenham paciência! Que refinada caretice!
Saí do “Fantástico” e fui zapeando pelo mundo televisivo. Não deu para agüentar mais. Só se falava em Bruno Fernandes, Eliza Samúdio, Misael Bispo, Mércia Nakashima, Lulla, Dilma, Sarney, Ricardo Teixeira, Laddy Gaga, Ahmadinejad e outras figuras correlatas. Só gostei, mesmo, foi do “Cala a Boca, Galvão!”
Apertei o “off” do controle e fui buscar algum lenitivo no computador. Não estava interessado no noticiário da Internet. Que, afinal, é cópia do que se vê no geral. As notícias são distribuídas, sempre, pelas mesmas supra-agências predominantes; tudo igual e sempre igual...
Assim que abri a pasta “Meus Documentos/Meus Vídeos”. Fui para a subpasta “Clube da Bossa”. Lá cliquei em um dos meus vídeos preferidos, presente do meu amigo Vovoô Felipão, via Internet: Lúcia de Maria cantando Elizeth.
Não tinha cenário, não tinha aparato, não tinha nada de mais. Era só ela com os nossos músicos do Clube da Bossa de Brasília. Gostoso de se ver e ouvir!...
Lúcia e Elizeth. Duas divinas em uma só!
Depois, Fui dormir feliz!...
Anunnak – 12/07/2010 – 11:31hs