Manifestação, Mídia e Poder

Ontem, assistindo uma cobertura jornalística sobre a redução dos R$ 3,20 de passagem de ônibus para R$ 3,00, fiquei a pensar no grande poder de manipulação da mídia, principalmente a televisiva. Mesmo com a Internet ganhado grande espaço nos lares brasileiros a televisão ainda continua muito senhora na mentalidade das pessoas.

Vi os primeiros dias de manifestação e nos mesmos não havia tanta agressividade física e ao patrimônio da cidade de São Paulo, mas os manifestantes não receberam tanta atenção dos governantes; prova disso foram os outros dias de manifestação agressiva que se seguiram.

Obviamente não estou fazendo apologia à “baderna”, termo muito utilizado pelos críticos e repórteres para se referir à atual situação, contudo me incomodou a distorção midiática. Tudo deveria partir de um diálogo entre ambas as partes (governo e sociedade) para se chegar a um acordo, entretanto o governo aumentou o valor sem consultar o Seu Zé que pega ônibus todos os dias e sem pensar na Dona Maria que praticamente faz morada no transporte coletivo por trabalhar na mansão que fica a 3 horas de distância de seu barraco na favela.

Mas pensemos...como está se dando esse processo nada dialógico? As pessoas (cidadãos) perderam a paciência e partiram para a agressão e a mídia repercute o tempo todo a “baderna” dos “baderneiros” e o “horror” que essas pessoas “do mal” estão causando às pessoas “do bem”; traduzindo essa antítese barroca chegamos no seguinte: pessoas más são aquelas que se revoltam com o abuso e pessoas boas refere-se à burguesia que se horroriza em seus tronos com a bagunça social dos animais pobres.

Democracia falsa a nossa, pois não consegue promover um diálogo, uma conversa, um acordo verbal e, pior que isso, os mais fortes e mais ricos socialmente pintam o quadro social do jeito que querem, inserindo as pessoas de classe mais baixa nesse contexto do modo que lhes convém. É mais fácil para os jornais focar nos “baderneiros” do que no diálogo necessário desde o princípio que não foi travado.

A preocupação maior aqui não é nem com a manifestação em si, apesar de reconhecer o valor da mesma e respeitar a situação do pessoal da capital, pois é sabido que R$ 0,20 em um dia é pouco, mas multiplicado por 2 ou 3 ônibus por dia e por mais 30 dias no mês é muito, é pesado e desfalca o orçamento da maioria das famílias paulistanas; mas também é um realidade a inflação, a economia e a necessidade de reajuste em todas as instituições e em todos os âmbitos.

Preocupa-me muito é a força da mídia, a alienação que ela ainda provoca e o perigo disso tudo. A televisão cria sua verdade e seu cenário de modo bastante convincente e a maioria dos lares e das pessoas engole esse angu sem nem pensar no gosto e na textura do prato servido.