PODE PARECER...
Pode parecer idiota, mas o hímen já teve seu valor. Tão valoroso era aquele pequeno pedacinho de pele, que o noivo mostrava o lençol, manchado de sangue, para a família, exibindo-o como um troféu. Coitadas das donzelas que tinham o dito cujo complacente ou, pior ainda, aquelas que, na pressa, o perderam pelas estradas da vida!
Pode parecer invenção, mas no século passado existiu boa música. Os compositores se preocupavam em colocar conteúdo nas letras. Ai do cara que botava porcarias para gravar! Esse era o cantor de uma música só, porque mau gosto tinha vida efêmera.
Pode parecer pré-histórico, mas a honestidade era real e o fio de bigode selava acordos sempre cumpridos. Mesmo que o cara não tivesse bigode para investir um fio, tinha hombridade e isso era quase um direito consuetudinário. Mesmo que todos tivessem pernas, não era costume passar a perna no outro. O máximo que podia acontecer era as pernas se unirem naqueles momentos que todo mundo sabe que elas se unem.
Pode parecer piegas, mas o colarinho branco era branco mesmo. Não havia, por exemplo, um cinza disfarçado de branco ou um colarinho branco cometendo crimes. Colarinho servia para aquilo que ele foi feito e não para sentar numa cadeira, no alto de um planalto, zombando daqueles que lhe deram vida pública. Aliás, se ficasse só na zombaria... o pior é o que vem atrás dela.
Para terminar, pegando o gancho do colarinho branco, o salário mínimo já foi grande, quase máximo. Quem vê o mínimo hoje, se é que alguém ainda consegue enxergá-lo, não pode imaginar que nem sempre ele foi assim. Porque, hoje, ele vai tão rápido que, se o cara piscar, ele passa sem ser visto.
Pode parecer que não, mas tudo mudou. Coisas da modernidade? Sei não! O hímen até que nem servia para nada mesmo. Quanto ao restante... tenho saudades!