A VIRADA DO DESTINO
Um homem culto de boa aparência e modos finos; financeiramente bem-sucedido encontrou o inesperado.
Enquanto guiava o seu carro, um louco ao volante lhe foi de encontro. Impacto violento de consequências cruéis.
O vitimado teve várias mulheres e alguns filhos, que não os soube valorizar.
O seu alto salário transformou-se em quase nada, diante das subtrações, concernentes às pensões alimentícias impostas pelo sistema.
Morava de aluguel. Jamais, pensou em poupar o pouco do que lhe restava. Às dívidas cresceram; a inadimplência lhe bateu à porta levando-o ao despejo de sua morada.
O acidente o deixou com marcas, que lhe impediram a contratação trabalhista; conviveu com a ralé, lutou para não comer do bocado dos mendigos, porém, à fome o venceu.
Enquanto catava latinhas de refrigerantes, para vendê-las, achou restos de comida na lixeira de um restaurante. Pegou-os e se assentou no chão... Receoso começou a comer às partes intactas, logo esqueceu que eram restos... e, avidamente se alimentou.
Sentindo-se observado olhou à frente, um garotinho bem vestido o olhava, admirado. Parou por um momento, olhou profundamente nos olhos do menino.
A mãe da criança logo apareceu e olhou para o homem, friamente, pegou a mão do filho e apressadamente o fez entrar no seu carro de luxo e partiu... Não enxergou a extrema necessidade do homem, que olhando o carro se afastar viu a mãozinha da criança que lhe acenava... Chorou amargamente.
Àquela mulher não tinha os olhos de Deus.
O olhar e o aceno da criança lhe falou mais que as muitas palavras...
Certamente, haverá um momento na vida daquela criança , em que a imagem daquele homem, no mais profundo caos, surgirá na sua memória...
Refeito do difícil momento, o homem falou para si: – Não
EstherRogessi, Crônica: A Virada do destino, Recife, 14/07/13.
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